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Com US$ 76 BI globalmente e alta de 140% no Brasil, M&A no agro acelera investimentos estratégicos

O mercado de Fusões e Aquisições (M&A) é uma engrenagem que movimenta trilhões de dólares e redefine setores inteiros. Contudo, sua dinâmica financeira não é uniforme, sendo profundamente influenciada por fatores como a incerteza sobre a condução da política econômica (EPU), que tem propensão a influenciar decisões de investidores e das empresas.

A instabilidade econômica, longe de ser impeditiva, pode trazer oportunidades estratégicas, especialmente no setor de M&A voltado ao agronegócio. Um estudo conduzido por Ronaldo Rodrigues, senior associate da Zaxo Group, analisou mais de 20 mil transações entre 1990 e 2023 em 18 países, revelando que períodos de incerteza macroeconômica (medida pelo índice EPU) não apenas afastam investidores cautelosos, mas também abrem brechas para movimentos assertivos.

O levantamento mostra que a incerteza sobre a condução da política econômica reduz, em média, o valor das aquisições em 6,7%. No entanto, quando o ativo apresenta alto potencial de crescimento, essa perda cai para menos de 1%, criando espaço para negociações mais competitivas.

“No Brasil, o agro tem uma característica muito própria: a produção não para e a demanda global se mantém constante. Assim, os investidores conseguem entrar em operações com valuations atrativos e colher resultados robustos no médio e longo prazo”, explica Ronaldo Rodrigues, senior associate da Zaxo Group.

Dados da GlobalData reforçam essa tendência. Em 2024, as transações globais de M&A no setor agropecuário atingiram US$ 76 bilhões, com 977 operações registradas em todo o mundo. Além disso, segundo a Capstone Partners, o rendimento bruto da agricultura mundial deverá chegar a US$ 4,8 trilhões em 2025, com os EUA respondendo por US$ 587 bilhões desse total.

No Brasil, o agronegócio segue como uma âncora econômica e continua atraindo capital nacional e estrangeiro para operações de consolidação, verticalização e inovação tecnológica. Entre janeiro e maio de 2025, o país registrou 596 operações de M&A, alta de 15% em relação ao mesmo período de 2024, segundo a PwC Brasil.

No entanto, ao observar especificamente o setor agropecuário, o panorama é diferente. Em 2024, o segmento registrou 12 transações, o melhor desempenho dos últimos cinco anos e um crescimento de 140% em relação a 2023, conforme a KPMG. Já no primeiro semestre de 2025, o ritmo diminuiu e cinco operações foram registradas, uma queda de 28,6% em comparação com o mesmo período de 2024.

“Esse contraste evidencia a resiliência do setor agro a longo prazo, mas também mostra a sensibilidade do mercado a fatores conjunturais, reforçando a importância de estratégias cuidadosas e de visão de médio e longo prazo para operações de M&A no país”, destaca Rodrigues.

O segmento de fertilizantes foi destaque, com nove transações em 2024. Do total de operações no agro, cinco foram nacionais (entre empresas brasileiras), três de estrangeiros adquirindo companhias no Brasil, três de brasileiros comprando ativos de estrangeiros e uma transação entre dois grupos estrangeiros com operação no país.

Entre as negociações mais relevantes está a compra de 50% da Mantiqueira Brasil, uma das maiores produtoras de ovos do mundo, pela JBS, em negócio avaliado em R$ 1,9 bilhão (janeiro de 2025). Em julho do mesmo ano, o Grupo Safras, especializado em grãos e etanol, passou a ser controlado por um fundo da AM Agro.

Mas 2024 também trouxe um movimento importante para o agro além das grandes aquisições. Pela primeira vez, o setor de Agtech entrou no ranking das dez principais verticais de tecnologia que mais atraíram investimentos na América Latina, ocupando a oitava posição. De acordo com a LAVCA, o segmento movimentou US$ 119 milhões no ano, equivalente a 2,6% do total de recursos investidos na região, com 37 rodadas de aporte, superando áreas como logística, CRM e cleantech.

Esse crescimento reforça o papel do campo não apenas como motor econômico, mas também como vetor de inovação tecnológica. Startups ligadas à agricultura de precisão, IoT no campo, inteligência artificial para manejo de safras e automação de processos estão no centro dessa transformação. Para especialistas, a entrada do Agtech no “top 10” é reflexo direto da busca por produtividade, sustentabilidade e eficiência na produção de alimentos, fatores que também atraem o olhar de investidores estratégicos em operações de M&A.

Jefferson Nesello, sócio-fundador da Zaxo, vê um paralelo direto entre o ciclo produtivo da terra e o de M&A. “Assim como no campo, há momentos de plantar e de colher. A instabilidade econômica pode ser o momento certo de preparar o solo para aquisições estratégicas, garantindo colheitas mais ricas no futuro”.

Leonardo Grisotto, também sócio-fundador, reforça que o apetite por ativos de alto potencial no agro tende a aumentar em períodos de volatilidade. “A terra é um ativo que se valoriza de forma consistente, e empresas do setor têm capacidade de gerar caixa mesmo em cenários adversos. Isso cria um ambiente perfeito para negociações inteligentes”.

O estudo revela que, para cada 1% adicional nas oportunidades de crescimento (“growth options”) em momentos de instabilidade, o valor do negócio pode aumentar até 16%, chegando a 19% em mercados altamente competitivos.

Segundo Rodrigues, isso significa que a volatilidade, em vez de ser apenas um risco, pode ser transformada em vantagem estratégica para players do agronegócio. “O investidor que conhece o ciclo, entende o valor da terra e sabe o momento de entrar no negócio consegue transformar a instabilidade em um trator que abre novas fronteiras.”

A pesquisa integra a tese de doutoramento de Rodrigues na Universidade Federal do Paraná, orientada pelo professor Cláudio Marcelo Edwards, e lança luz sobre como decisões bem embasadas podem gerar valor mesmo em contextos de incerteza macroeconômica.

Fonte: Engenharia de Comunicação

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