As atividades agrícolas são hoje um dos principais geradores de renda no Brasil, sobretudo no Pará. Segundo dados da Federação da Agricultura do Estado do Pará (Faepa), elas contribuem com, em média, 21% da composição do PIB dos municípios, representando a fonte econômica de grande parte deles e base de ocupação para cerca de 40% da população.
No Pará, o cultivo possui uma característica única: a busca pelo equilíbrio entre o plantio, que garante renda para diversas famílias paraenses, e a conservação da floresta amazônica. Trata-se de um desafio que exige modelos de negócio inovadores e capazes de aliar produtividade e preservação ambiental.
Nesse contexto, diversos produtores têm aderido a técnicas baseadas na agricultura regenerativa, redesenhando o desenvolvimento agrícola. Em áreas antes marcadas pela monocultura, um sistema diferenciado que integra o cultivo do dendê – uma das principais lavouras do Pará – com outras culturas como mandioca e pimenta-do-reino, começa a ganhar força. Essa mudança é provocada por uma iniciativa pioneira estruturada há 23 anos que está redefinindo a relação entre indústria e pequenos agricultores.
Liderado pela Agropalma, empresa brasileira reconhecida mundialmente como referência na produção sustentável de óleo de palma, o Programa de Agricultura Familiar e Integrada atende atualmente 374 agricultores familiares e 63 produtores integrados. A iniciativa consiste em viabilizar oportunidades de trabalho, fornecendo acesso aos melhores materiais de plantio e insumos agrícolas, além de aconselhamento e treinamento contínuo sobre práticas de sustentabilidade e requisitos legais.
O consórcio, na prática
A Vila Jutaiteua, em Moju (PA), é uma das comunidades que aderiram ao programa da Agropalma e à proposta dinâmica de cultivar palma em consórcio com a mandioca, que possui um ciclo de produção de cerca de um ano. Isso significa que, enquanto os produtores aguardam o período de 24 a 28 meses necessário para colher os primeiros frutos da palma, há a opção de garantir a renda com essa outra colheita cultivada nos mesmos hectares do dendê.
“Antigamente, a renda das famílias da vila era baseada apenas no cultivo da mandioca e da pimenta-do-reino e enfrentávamos dificuldade para comercializar os produtos, pois não tínhamos um mercado garantido”, relembra Raimundo Nonato Pompeu, líder da Comunidade de Jutaiteua. “A parceria com a Agropalma foi a realização de um sonho, a partir da chegada de uma cultura que nos dá a segurança de que vamos colher e vender por um preço justo”.
A seguridade citada por Nonato só é possível porque a Agropalma garante a compra de 100% dos frutos produzidos pelas famílias do programa, independentemente da variação do mercado, seguindo uma política justa de precificação. Esse é um dos principais diferenciais da companhia e permite aos agricultores a sustentação da parceria no longo prazo.
Como resultado dessa coparticipação, 23,3% dos frutos processados na fábrica da Agropalma têm como origem as plantações de produtores parceiros. Em contrapartida, o programa colaborou com o aumento de 528% da remuneração dessas pessoas e demonstrou que é possível conciliar a geração de renda com a preservação do meio ambiente.
Compromisso com a sustentabilidade
A implementação do Programa de Agricultura Familiar para os agricultores que desejam fazer parte da iniciativa da Agropalma envolve um processo cuidadoso e estruturado, com várias etapas para proporcionar o bom manejo e o êxito na produção. Adepta das práticas sustentáveis, a empresa assumiu uma política rigorosa de não desmatamento, deixou há mais de 20 anos de converter florestas em plantações de palma e vem concentrando esforços em iniciativas de modernização e práticas agronômicas que visam a eficiência do solo, cumprindo rigorosamente as diretrizes estabelecidas pelas legislações florestal e ambiental.
“Quando o produtor decide iniciar o plantio, a Agropalma demarca as áreas no campo que serão voltadas à plantação, assegurando um manejo adequado e sustentável das terras. A empresa oferece assistência técnica completa e treinamentos especializados para capacitar os agricultores no programa”, afirma Antonio Jorge Brandão, gerente do Programa de Integração Agricultura Familiar e Produtores Integrados. “Essa assistência busca aprimorar as habilidades e conhecimentos dos agricultores, propiciando os melhores resultados possíveis em sua produção mediante o compromisso de preservar o meio ambiente. Por isso, queremos levar esse modelo bem-sucedido para outras comunidades.”
Todo o cultivo realizado pelos produtores segue as Melhores Práticas de Manejo (BMPs, na sigla em inglês), técnicas orientadas pela Agropalma que garantem não só uma rentabilidade de produção maior, mas também que o solo permaneça saudável. Essas técnicas consistem, basicamente, em combinar as estratégias de produtividade, como um manejo voltado ao ganho de rendimento, boa cobertura de solo (que diminui, inclusive, uso de herbicidas), nutrição adequada, podas nos períodos corretos e captura de rendimento – processo em que há intervenções para reduzir as perdas durante o processo de colheita.
“No início foi difícil, uma vez que aquela cultura era totalmente nova para a maioria dos agricultores”, recorda Brandão. “Naquela época, eles viviam da agricultura de subsistência, como o cultivo da mandioca, e do extrativismo. Derrubavam madeira para vender e praticavam pesca e caça predatórias, além de, culturalmente, efetuarem a queima do solo para iniciar uma nova produção. Nosso trabalho foi inseri-los em um novo cenário baseado na produção sustentável.”
Além do campo
Os ganhos relacionados ao plantio em consórcio não se limitam apenas ao que diz respeito ao meio ambiente e à geração de renda: chega ao âmbito da segurança alimentar, considerando que muitos dos alimentos consumidos pelos agricultores e suas famílias têm como origem as suas próprias terras.
A agricultura familiar vem acompanhada da garantia de uma ocupação, seja para os produtores rurais, familiares ou até mesmo moradores dos arredores. “Hoje, tenho minha casa e meus seis filhos estão ao meu lado trabalhando comigo”, conta Iracema Pinto, uma das pessoas beneficiadas pelo programa. As famílias passaram a ter acesso a uma melhor qualidade de vida, com filhos frequentando escolas e universidades, e uma percepção de mudança concreta em seu cotidiano.
“Os agricultores não precisam de doações – e, sim, de oportunidades. Não se pode tratar o agricultor como um experimento. Ele é o elo mais vulnerável do sistema produtivo. Precisamos chegar até ele com projetos concretos, estruturados e viáveis se quisermos gerar resultados de verdade.”
Fonte: Ligea Paixao