A estação mais quente do ano está prestes a começar, e os cuidados intensificados com os animais de produção também. Para auxiliar os produtores a manter o bem-estar animal e a produtividade ao longo do verão, médicos-veterinários que atuam na MSD Saúde Animal separaram dicas para o manejo de bovinos, suínos e peixes, com estratégias para driblar alterações de comportamento devido ao calor intenso. Acompanhe abaixo:
Bovinos
Para vacas de leite, o estresse térmico é um fator extremamente negativo e, por isso, são necessárias medidas para minimizar o impacto na saúde e no bem-estar dos animais. É o que ressalta Thatiane Kievitsbosch, gerente de produtos de soluções tecnológicas para Ruminantes na MSD Saúde Animal. “Vacas em estresse térmico comem menos e, por consequência, produzem menos. E a gente sabe que a rentabilidade está diretamente ligada à produção de leite, então, é preciso cuidar para que as altas temperaturas não prejudiquem o animal e seu desempenho”, afirma a especialista.
Segundo o pesquisador da Embrapa Gado de Leite (MG) Marcos Vinícius G. B. Silva, o Brasil perde todos os anos cerca de 30% da produção devido às altas temperaturas, tornando a cadeia produtiva do leite vulnerável aos eventos provocados pelas mudanças climáticas. Mas, hoje, há como prevenir perdas por estresse térmico, e isso se dá por meio das novas tecnologias.
“O sistema de monitoramento é uma ferramenta fundamental para a produção leiteira. O SenseHub Dairy, por exemplo, que é a plataforma de monitoramento da MSD Saúde Animal, consegue traduzir e entender quais lotes estão em estresse térmico. Utilizando métricas como frequência respiratória, ele mostra o horário e o dia que isso aconteceu e qual lote teve a ocorrência”, explica Thatiane.
Ainda de acordo com a profissional, as vacas que estão em estresse térmico se tornam, em sua maioria, ofegantes. “Elas passam de 60 respirações por minuto e, quando mais de 10% do lote está ofegante, temos um grande sinal de alerta. E o monitoramento aponta justamente isso. Inclusive, os dados capturados permitem compreender momentos em que os animais estão em estresse térmico e que, geralmente, não imaginamos, como na madrugada.”
A partir dessa análise, indica Thatiane, é possível tomar atitudes específicas e ágeis, como resfriar os animais por meio de aspersão de água e ventilação em momentos específicos e estratégicos no manejo. “Além disso, para fazendas que já resfriam os animais, o sistema de monitoramento pode informar se o resfriamento está sendo eficiente ou não.”
Suínos
A temperatura ambiente acima de 22°C traz implicações diretas para leitoas na creche de terminação, como retrata o livro Doença dos Suínos, de David Barcelos e Roberto Guedes. Em ambientes com temperatura em 22,7°C, a frequência respiratória é de 27 por minuto, já quando atinge 31,4°C, chega a 112 por minuto, o que é um sinal preocupante. Quanto ao consumo de alimentos, cai de 2.846g/dia para 900g/dia. “O aumento de temperatura ainda promove alterações hormonais, prejudica o desenvolvimento do animal, entre outras consequências. Os estressores ambientais podem afetar o desempenho produtivo e reprodutivo dos animais pela elevação das taxas de corticosteróides plasmáticos, os quais podem alterar o estado imunológico, diminuir a resistência a infecções, aumentar o catabolismo e interferir na absorção de nutrientes”, detalha José Luiz de Almeida, coordenador técnico da unidade de Suinocultura da MSD Saúde Animal.
O profissional também pontua que a fêmea suína tem um tipo de placenta que impede que o leitão receba anticorpos na vida intrauterina, o que torna o colostro – a primeira secreção de uma glândula mamária, que geralmente é liberada nas primeiras 24 horas após o parto – essencial para sua proteção. “Então, se a fêmea não tem os cuidados necessários no pré-parto e é exposta a altas temperaturas, a produção de colostro é reduzida e, assim, diminui o peso de desmame do leitão. Além disso, o calor impacta diretamente na concentração de imunoglobulinas no colostro, que são os anticorpos. Ou seja, a ambiência da fêmea é fator imprescindível.”
A ambiência ainda está totalmente relacionada aos fatores predisponentes de enfermidades nos primeiros dias de vida do leitão e no nível de mortalidade. “A ambiência e os manejos interferem diretamente na saúde do rebanho. E o conforto térmico é um dos diversos fatores que influenciam positivamente no bem-estar animal”, afirma José Luiz, que ainda complementa que “investir em condições ideais de criação é garantir não apenas o desenvolvimento saudável dos suínos, mas também a sustentabilidade e qualidade do setor”.
Outro ponto de atenção é que, pelo clima mais seco do verão, há uma quantidade maior de poeira nas instalações, o que pré-dispõe enfermidades pulmonares.
Peixes
Em tilapicultura, o verão é a época do ano de maior impacto para o sistema produtivo, conforme explica Talita Morgenstern, coordenadora técnica nacional de Aquicultura na MSD Saúde Animal. “A tilápia é uma espécie tropical que apresenta conforto térmico ideal para seu desenvolvimento entre 25ºC e 30ºC. A temperatura da água é um dos fatores que mais afetam a fisiologia, o crescimento, a reprodução e o metabolismo da tilápia-do-Nilo. A elevação da temperatura provoca um aumento no metabolismo e, com isso, o peixe passa a ter estresse térmico, ficando mais susceptível a infecção por patógenos.”
Ainda segundo a especialista, o verão é a estação que aumenta o número de mortalidade por Streptococcus, uma das principais doenças no cultivo de tilápias e que atinge indivíduos jovens e adultos. “Por isso, além de sempre manter a vacinação específica contra a doença, é preciso atenção para práticas como utilizar densidades menores, optar por rações de alta performance, diminuir a porcentagem de arraçoamento e sempre respeitar a temperatura da água para decisão do correto manejo”, orienta.
Condições inadequadas de qualidade de água, manuseio excessivo e altas taxas de alimentação aumentam a predisposição das tilápias à infecção por Streptococcus. Talita também pontua que as doenças bacterianas são as que possuem maior impacto sanitário na criação de peixes, sendo as estreptococoses e a lactococose as duas principais nesta época do ano, porém o vírus ISKNV – Necrose Infecciosa de Baço e Rim (Iridovírus) é outro de grande relevância, especialmente por sua característica imunossupressora, que debilita os animais, deixando-os predispostos a infecções secundárias. “Um grande fator de risco para essas doenças é o aumento da temperatura da água. Por isso, em temperaturas próximas a 30°C, é importante ter atenção aos manejos diários, porque é um período crucial para a tilapicultura”, diz Talita.
Fonte: Thaís Campos