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Certificação transforma fazenda de soja mato-grossense em referência de gestão e impacto social no campo

Nascida em uma família de agricultores no Sul do país, Márcia Becker Paiva carrega desde cedo o contato com a terra. Mas foi em Mato Grosso, depois de entrar para a família Paiva – pioneiros na região –, que ela transformou essa vivência em vocação. “É uma profissão difícil, um aprendizado diário. Diferente de uma empresa urbana, a fazenda enfrenta desafios constantes de clima e mercado, mas é gratificante saber que o nosso trabalho alimenta a cidade, o estado e o Brasil”, ressalta.

Há 12 anos, Márcia iniciou sua jornada na Fazenda Santana, ao casar-se com Juliano Paiva, filho de Luis Fernando e Dudy Paiva, em Sorriso (MT). Os pais de Fernando chegaram na cidade em meados dos anos 80, formando a Fazenda Santana. Desde o início, conta Márcia, o casal já se preocupava com a sustentabilidade, conservando cerca de 450 hectares de Área de Preservação Permanente (APP). “Dudy nos deixou em 2024, mas seu legado em sustentabilidade segue vivo e inspirando nosso caminho”, lembra.

Com área total de mais de 1.400 hectares, sendo 900 destinados à produção, a propriedade acompanha de perto a evolução do agronegócio brasileiro: da chegada de novas tecnologias ao manejo mais sustentável e eficiente do solo.

“Os agricultores sempre quiseram fazer o certo, mas faltavam estudos e práticas consolidadas. Hoje conseguimos produzir mais, com qualidade e sem degradar o solo – nossa principal ferramenta de trabalho”, conta a produtora rural.

A certificação que transformou a gestão da fazenda

Em 2014, a propriedade deu um passo decisivo ao adotar a certificação da Mesa Redonda da Soja Responsável (Round Table on Responsible Soy Association – RTRS). O processo contou com apoio da Associação Clube Amigos da Terra (CAT Sorriso/MT), uma instituição criada por produtores rurais que prima pelo desenvolvimento tecnológico do agronegócio de forma harmônica com o meio ambiente.

“Nós tínhamos um caminho, mas precisávamos de um norte mais objetivo. Quando a minha sogra e o meu sogro chegaram em Mato Grosso, há 40 anos, eles sempre se preocuparam em atingir o objetivo tanto de produção quanto de preservar. Eles tinham uma visão muito boa do futuro, de que precisavam preservar para continuar tirando frutos da terra”, relembra Márcia, que atualmente é também conselheira Fiscal do CAT Sorriso.

Nesse passo importante dentro da fazenda, a produtora rural contou com apoio da instituição que acompanhou o processo e continuam dando suporte até hoje. “Isso foi fundamental para entender e cumprir os critérios da certificação, que são bastante exigentes, mas que, ao mesmo tempo, facilitam a nossa melhoria contínua”, compartilha.

A partir da certificação, a fazenda reorganizou processos internos, como oficinas, descarte de resíduos e controle de documentação, ganhando eficiência e assegurando conformidade ambiental e legal.

Além do impacto na gestão, a certificação abriu portas para iniciativas sociais. A propriedade se tornou espaço de aprendizado para crianças e jovens de escolas locais, que participam de visitas educativas sobre agricultura sustentável. “Os alunos são levados para as propriedades certificadas para entender como funciona a produção da fazenda e, ao mesmo tempo, como ela respeita o meio ambiente”, explica a conselheira Fiscal.

Do ponto de vista econômico, embora o prêmio financeiro pela soja certificada ainda seja modesto, o maior ganho vem da melhoria contínua na administração e da confiança nos mercados que buscam se abastecer de forma sustentável. “O incentivo financeiro existe, mas não é o principal atrativo. O que muda mesmo é a forma de gerir e pensar a fazenda”, resume Márcia.

Uma defensora da certificação, a produtora rural reforça a tranquilidade na gestão após adotar os critérios RTRS. Ao seguir os princípios exigidos, há uma mudança no formato de trabalho dos colaboradores, além de investimentos em treinamentos, garantia de segurança e organização melhor da fazenda. “Isso impacta diretamente na produção e no dia a dia”, afirma.

Segundo Márcia, a certificação também contribui para alinhar processos administrativos e operacionais com padrões de excelência. “É como o conceito de 5S aplicado à fazenda: tudo passa a funcionar de forma redonda. E, quando surge uma dúvida, temos sempre o suporte do CAT e da equipe da RTRS”, ressalta.

Para ela, esse é o caminho para o futuro, pois nenhum negócio sobrevive sem gestão e ferramentas verdes: “É preciso ter uma cultura voltada às boas práticas. Hoje em dia não é mais um diferencial, faz parte do negócio”.

A Fazenda Santana faz parte de um grupo de certificação RTRS composto por 19 propriedades, agrupadas sob o certificado em nome do CAT Sorriso. No total, o grupo certificou em 2024 59.894 hectares e 232.983 toneladas de soja, segundo a RTRS.

CAT Sorriso: Mais de 20 anos unindo produtores rurais no coração do Mato Grosso

Fundado há 23 anos, o CAT Sorriso nasceu de um movimento coletivo de produtores rurais no município de Sorriso com o objetivo de levar informação, tecnologia e práticas sustentáveis para o campo, promovendo o equilíbrio entre produção agrícola e preservação ambiental.

Segundo a coordenadora da instituição, Cristina Delicato, a associação foi criada em um momento de grande transformação regional. “Na época, o município despontava como nova fronteira agrícola brasileira, desafiando produtores a conciliar o crescimento acelerado com a responsabilidade socioambiental”, compartilha.

De acordo com ela, o CAT Sorriso atua como ponte entre produtores e soluções inovadoras, oferecendo treinamentos, assistência técnica e apoio para certificações socioambientais, além de facilitar o acesso a novos mercados e linhas de crédito: “Somos membro de RTRS desde 2015, e cumprimos um papel ativo na tomada de decisões da RTRS, oferecendo nosso conhecimento e experiência”, realça Cristina.

Trabalho contínuo no campo da sustentabilidade e gestão

Atualmente, o CAT Sorriso reúne cerca de 80 associados, dos quais 54 são propriedades certificadas e/ou em processo de certificação RTRS, com uma área total de 289 mil hectares. Em 2024, a produção alcançou 487 toneladas certificadas e, para 2025, espera-se um volume e uma área ainda maiores.

“Apesar dos avanços, o CAT Sorriso segue buscando maior valorização para a soja certificada no mercado. A associação defende que o reconhecimento financeiro e de mercado precisa acompanhar os investimentos realizados pelos produtores em gestão e sustentabilidade”, conclui Cristina.

Fonte: Valéria Campos

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