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Cafeicultores afetados por geadas precisam de planejamento financeiro

Quebra de safra nas principais regiões produtoras do País devido às condições climáticas adversas preocupa produtores que ainda contabilizam seus prejuízos

A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), estima que o preço do café que chegará à mesa dos consumidores brasileiros até o fim de setembro deve ter aumento de até 40%. Os principais motivos deste acentuado ajuste foram às condições climáticas adversas ocorridas do campo este ano, fortes geadas seguidas de uma prolongada estiagem que comprometeram a produtividade dos cafezais. Se a notícia para os consumidores não é boa para os cafeicultores, a preocupação é ainda maior.

Muitos ainda nem sequer conseguiram calcular o tamanho do prejuízo causado pelas intempéries. Contudo, em nota, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) informou que levantamentos preliminares indicam que só as geadas atingiram cerca de 200 mil hectares de cafezais. Os estados mais afetados são Minas Gerais, São Paulo e Paraná.

Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra atual não deve ultrapassar 48,8 milhões de sacas de 60 kg de grãos, o que representará um resultado 22,6% inferior ao da temporada anterior. Para a economista e doutora em agronegócios, Claudine Pinheiro Machado, CEO da boutique financeira Pinheiro Machado, apesar de não ser possível, ainda, calcular o impacto generalizado para a cafeicultura brasileira, sabe-se que a capacidade produtiva da atividade nas regiões afetadas pela geada poderá estar comprometida até 2024.

Ainda segundo ela, dependendo da substituição e da renovação das lavouras, nessas regiões, pode-se levar mais de três anos para iniciar a retomada da capacidade produtiva, e neste caso, a necessidade de um planejamento financeiro de longo prazo se impõe, principalmente porque estamos vivendo um momento de grande instabilidade ambiental devido às mudanças climáticas. “O produtor precisa de um planejamento muito mais sofisticado hoje do que era o caso 5 ou 10 anos atrás”, diz a especialista.  

Renegociação de contratos

Os cafeicultores, tiveram quebra de safra, situação muito semelhante à que os produtores de milho enfrentaram nos últimos meses. No caso deles evidenciamos muitos ‘washouts’ em contratos do cereal já firmados no mercado internacional. Segundo a economista, embora as causas de prejuízos sejam as mesmas, os mercados são distintos.

No mercado do café o preço pode ser fixado previamente em contrato, ou pode haver uma previsão contratual para que uma das partes tenha um direito de determinar quando o preço será fixado, são os chamados PTBF (price to be fixed), a expressão “buyer´s call” é usada quando o comprador pode exercer esse direito enquanto “seller´s call” refere-se ao direito do vendedor de quando fixar o preço. Ainda segundo a doutora, no mercado físico há contratos-padrão para o mercado americano, os para arábica da Green Coffee Association (GCA) e no europeu os contratos padronizados da Federação Européia de Café, na sigla em inglês, ESCC.

Além desses, existem aqueles alternativos que abrangem contratos de Fair Trade, de certificações de sustentabilidade, de cafés especiais, entre outros. “Nos contratos alternativos, normalmente o comprador está mais disposto a um contrato de longo prazo, pode aceitar “seller´s call” para que os requisitos especiais de um contrato premium sejam alcançados e o espaço para negociação ou renegociação pode ser mais favorável em situações disruptivas. No entanto, para o café fica muito complicado falar em movimentação, porque há uma diferença muito grande entre os contratos. Precisa-se de uma análise caso a caso”, ressalta a CEO da boutique financeira.

O que fazer?

Muitos cafeicultores infelizmente ainda estão contabilizando seus prejuízos, porém é preciso analisar a situação de seus contratos de venda para não correr o risco de mais perdas. Para Claudine, estes produtores, antes de mais nada, precisam construir essa estratégia de longo prazo, avaliando riscos e desenvolvendo ações táticas para conduzir o barco pela tempestade. “Pode ser uma renegociação contratual para alguns clientes, um empréstimo ou emissão de títulos ao mercado, a venda de um ativo, a busca de um parceiro, enfim, existem muitas possibilidades de reação para um evento negativo”, reforça.

Em situações como esta que se comprova a importância e necessidade de uma fazenda ter um planejamento estratégico de longo prazo, pois com em incidentes como este o impacto e o prejuízo podem ser muito menores. Para esse planejamento futuro é fundamental contar com a ajuda de profissionais, com experiência e conhecimento do mercado como de uma assessoria financeira como a Pinheiro Machado.

O agente financeiro atua como um arquiteto, que vai desenvolver o projeto futuro do negócio e selecionar os materiais necessários e disponíveis para atender os interesses específicos de cada cliente. “É muito importante destacar que não existe uma solução única para todos os casos. A assessoria financeira tem um pouco de arte e um pouco de técnica, que juntos podem desenvolver um projeto sólido e consistente, que seja único para cada cliente”, diz a doutora em agronegócios.

Outro ponto importante de uma assessoria financeira especializada no agronegócio é trabalhar avaliando as soluções apresentadas pelos técnicos. “No caso de lavouras afetadas pela geada, por exemplo, vamos trabalhar com as soluções viáveis econômica e financeiramente. No curto prazo, onde as plantas foram bastante afetadas, vamos gastar menos? No médio prazo, medidas que fortalecem as plantas contra intempéries, como tratamento e a adubação da lavoura, estão previstas nos custos? No longo prazo, vamos arborizar os cafezais? Quais são as condições para fazer esse investimento? Todas essas perguntas precisam ser respondidas, exemplifica a profissional.

Ainda sobre uma atuação preventiva e redução de riscos, sempre é orientado por estes especialistas a contratação de seguros. “Aqui no Brasil o seguro agrícola tem uma boa cobertura, quando há financiamento, muitas vezes, a contratação é obrigatória. Existem seguros específicos para a cafeicultura, por exemplo. Para contratos internacionais existem opções de apólices para comercialização de commodities com cobertura até mesmo para perda de lucros ou aumento de custos na cadeia de suprimentos”, complementa a CEO da Pinheiro Machado.

Ajuda financeira

Diante do enorme estrago nos cafezais, o Conselho Monetário Nacional (CMN) anunciou R$ 1,32 bilhão para linhas especiais de crédito do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) destinadas a socorrer produtores prejudicados pelas geadas. Uma outra alternativa aos cafeicultores que buscam investimento para recomeçar sua produção, uma alternativa é a busca por capital estrangeiro.

O fato de ter perdido a produção, em princípio, não é um empecilho à busca de financiamento rural. Mesmo porque, uma das formas mais comuns de garantia, especialmente para a estruturação de títulos ao mercado, são os recebíveis futuros da produção ainda a ser plantada. Ou seja, o prejuízo passado, em tese, não deve ser um empecilho para levantar capital para a produção futura, sempre, é claro, dependendo da solidez, da experiência e da capacidade produtiva de quem está buscando capital.

Outras formas de garantia são as imobiliárias e também a formação de joint-ventures, onde os riscos da empreitada são compartilhados entre o tomador e o emprestador do capital. Além disso existem operações, muito comuns em financiamentos internacionais, que não são garantidas. “Normalmente o custo do capital é um pouco mais elevado nesses casos, mas isso não é tão relevante se, dentro de uma análise econômico-financeira específica para o negócio buscado, a produção se pagar e ainda der lucro para o tomador. Enfim, não existe uma solução única. Há uma vasta gama de opções possíveis que devem ser analisadas e estruturadas caso a caso e um agente financeiro vai ajudar nesse sentido”, finaliza a especialista.

Fonte: Rural Press

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