Por Ana Lígia*
Ter o controle da buva resistente a glifosato é essencial para um bom desenvolvimento da sua lavoura. Neste artigo listamos as melhores práticas e como fazer o controle efetivo desta erva daninha. Há anos a buva não assustava ninguém. Hoje a história mudou.
Se você tem essa planta invasora na sua fazenda, sabe bem do que estou falando. E o principal motivo desse jogo virar foi o desenvolvimento da resistência a glifosato. Sem conseguir controlar a buva pela aplicação do herbicida, a planta se espalha rápido na lavoura. 3 plantas de buva por m² podem resultar em perdas de 4 sacas de soja por hectare. Mas como controlar essa daninha? E verificar se o custo compensa?
(Fonte: Jornal Coamo)
Como está a “grama do vizinho”: Cenário de buva resistente a glifosato e outros herbicidas no Brasil
Se você tem plantas daninhas resistentes a herbicidas na sua área, não se preocupe. A grama do vizinho não está mais verde: infelizmente essa é uma situação comum de ser encontrada no país.
No Brasil existem 50 relatos de plantas daninhas resistentes a herbicidas. Destes, 15 são plantas resistentes a glifosato (herbicidas inibidores da EPSPs) e 8 são de plantas de buva.
Infestação de buva resistente a glifosato no Brasil (Fonte: Prof. Michelangelo Trezzi)
No Brasil, o primeiro caso de buva resistente a glifosato foi registrado em 2005. O mais recente deles, em 2017, que podemos considerar como um cenário preocupante é o da buva resistente a três mecanismos de ação diferentes. Veja um pouco dos registros, por ordem cronológica:
Ano de 2005
- Conyza bonariensis a glifosato;
- Conyza canadensis a glifosato.
Ano de 2010
- Conyza sumatrensis a glifosato
Ano de 2011
- Conyza sumatrensis a chlorimuron;
- Conyza sumatrensis a glifosato e chlorimuron.
Ano de 2016
- Conyza sumatrensis a paraquat;
- Conyza sumatrensis a saflufenacil;
- Conyza sumatrensis a glifosato, chlorimuron e paraquat.
O primeiro passo de um controle eficiente de plantas daninhas, resistentes ou não, é a sua correta identificação. Por isso, acompanhe abaixo algumas das características mais importantes da buva.
Identificando essa planta daninha: características principais da buva
- As plantas de buva pertencem a família Asteraceae, são anuais ou bianuais, eretas, chegando até 2,5 m de altura;
- Possuem fácil disseminação através do vento;
- Toleram bem condições de seca;
- Uma planta é capaz de produzir de 100.000 a 200.000 sementes;
- As sementes não possuem dormência;
- Ótima germinação entre 20 a 25 °C.
As espécies de buva são difíceis de serem diferenciadas, veja na figura abaixo algumas dicas!
(Fonte: Michelangelo Trezzi)
Para saber mais sobre a identificação das espécies de buva consulte a publicação do HRAC: “Aspectos Botânicos, Ecofisiológicos e Diferenciação de Espécies do Gênero Conyza”.
Herbicidas para controlar a buva
Muitos herbicidas podem ser recomendados para manejar a buva e ajudar na prevenção à resistência. Para a cultura de soja, veja o quadro abaixo:
(Fonte: Embrapa)
Verifique também os herbicidas com mecanismos de ação alternativos indicados para controle de buva resistente a glifosato segundo Adegas et al. (2017).:
Inibidores da ALS
Clorimuron, cloransulam, diclosulam e iodosulfuron.
Mimetizador de auxinas
2,4 D e dicamba.
Inibidores da glutamina sintetase
Glufosinato de amônio.
Inibidores da PROTOX
Flumioxazin, saflufenacil e sulfentrazone
Inibidores do fotossistema I
Paraquat
Mas não é só com herbicidas alternativos que controlamos eficientemente essa planta daninhas. O controle cultura é igualmente importante.
Controle cultural da buva
O controle cultura é uma excelente ferramenta para reduzir a infestação. Assim, temos alguns exemplos a seguir. Lamego et al. (2013) observaram que a infestação de buva é reduzida quando se tem coberturas vegetal (palhada) sob o solo.
(Fonte: Lamego et al., 2013)
Os autores também viram que aliando o manejo cultural ao controle químico (por herbicidas) é possível elevar a produtividade da soja pelo controle da buva. Eles notaram que, em alguns casos, a cobertura sozinha já foi suficiente para garantir a produtividade da soja. No trabalho realizado por Rizzardi e Silva (2014), o manejo cultura com coberturas de inverno proporcionou a redução no número e na altura de plantas de buva.
(Fonte: Rizzardi e Silva (2014))
Ou seja, quanto maior for a cobertura do solo, menor vai ser a germinação das plantas de buva. Isso porque essas plantas necessitam de luz para germinar (são fotoblásticas positivas).
Assim, com a cobertura do solo dificultamos a germinação dessa planta daninha, evitando que ela se reproduza e que deixe mais sementes no solo. Por isso, esse manejo cultural é importante para áreas com ou sem buva resistente a glifosato ou outros herbicidas.
Para saber como fazer o manejo de plantas daninhas com cobertura de solo, veja este artigo. Mas ainda tenho algumas sobre o manejo em caso de resistência em sua área.
Dicas indispensáveis para o controle da buva resistente ao glifosato e outros herbicidas
Aqui estão as principais dicas para prevenir e manejar a resistência de plantas daninhas, incluindo a buva?
- Arranque e destrua plantas suspeitas de resistência;
- Faça rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação;
- Realize aplicações sequenciais de herbicidas com diferentes mecanismos de ação;
- Não use mais do que duas vezes consecutivas herbicidas com o mesmo mecanismo de ação em uma área;
- Faça rotação de culturas;
- Inspecione o início do aparecimento da resistência, ou seja, faça monitoramentos constantes na sua área;
- Use práticas para esgotar o banco de sementes, como estimular a germinação e evitar a produção de sementes das plantas daninhas;
- Evite que plantas resistentes ou suspeitas produzam sementes, ou seja, controle essas plantas antes de seu florescimento;
- Especialmente no caso da buva, faça o controle quando a planta apresentar 15 até 30 cm, facilitando seu manejo.
Sobre a última dica tenho algumas considerações a fazer.
Um dos principais desafios do controle químico da buva é o tamanho da planta, porque quanto maior a altura das plantas mais difícil é o controle. Por isso é importante saber identificar as espécies de plantas daninhas quando pequenas, para assim poder controlá-las quando jovens.
Influência do tamanho da buva na eficácia do controle químico aos 28 dias após aplicação, ou 13 dias após a segunda aplicação no caso de 2 aplicações. (Fonte: Blainski et al. 2009)
Aqui fica nítido que quanto maior a altura das plantas de buva no momento da aplicação dos herbicidas, menor é a eficácia de controle.
Para entender mais sobre o controle da buva este vídeo da Embrapa mostra a associação de métodos culturais e químicos. Se você quiser aprofundar sobre o tema, também recomendo o livro “Buva: fundamentos e recomendações para o manejo”.
O custo da buva resistente ao glifosato e outros herbicidas
Quando você tem uma planta daninha resistente em sua fazenda o seu custo para controlá-la vai aumentar. Especialmente se você estiver habituado a fazer somente o controle por glifosato, que é um herbicida barato.
Nesse sentido, estudos mostraram que o custo com o manejo de plantas daninhas aumentou em 82% para produtores que possuem problemas com buva resistente a glifosato e outros herbicidas.
(Fonte: Adegas (2015) em Qualittas)
Esse problema fica ainda maior quando se tem além de buva resistente, outras plantas daninhas como azevém e capim-amargoso.
Impacto econômico da resistência de plantas daninhas a herbicidas no Brasil (Fonte: Adegas et al. (2017))
No seu caso, dentro de sua fazenda, é possível verificar qual o custo com herbicidas ou com manejo de cobertura?
Essa observação é extremamente importante para identificar quais os melhores manejos que controlam a buva resistente a glifosato e outros herbicidas e garantem rentabilidade.
Recomendo fortemente que você faça seu orçamento da safra com um planejamento agrícola bem feito. Juntamente com o monitoramento constante da área, você saberá o que e como fazer para melhorar manejar as plantas daninhas e ainda ser economicamente viável.
Conclusão
A buva resistente a glifosato e outros herbicidas é um grande problema em plantas daninhas, mas o seu manejo efetivo é possível. Para prevenção da resistência de buva ao glifosato é importante o manejo com outros herbicidas de diferentes mecanismos de ação, além de métodos culturais.
Aqui vimos quais os produtos e outros métodos de controle são os melhores para a buva resistente ou não a herbicidas. E é no planejamento agrícola que você vai decidir, com segurança, qual a melhor combinação de medidas de controle. Isso vai garantir o manejo efetivo dessa e de outras plantas daninhas e ainda rentabilidade na sua safra!
Ana Lígia – Engenheira Agrônoma formada na UFSCar. MBA em Agronegócios e doutoranda no Programa de Fitotecnia-Plantas Daninhas na ESALQ.
Fonte: http://www.aegro.com.br