Por Tatiana Freitas
Maior produtor mundial de café, o Brasil tem estoques suficientes para garantir o abastecimento apesar dos recentes problemas climáticos que afetaram os cafezais, embora a logística continue trazendo dificuldades, segundo o presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil.
“Este não é um momento de estoques altos, mas são suficientes para atender a indústria local e internacional”, disse Nicolas Rueda, do Cecafé, em entrevista. Após uma safra abundante em 2020-21, “foi possível acumular bastante estoque.”
Os comentários dele permitem maior entendimento de um mercado onde faltam dados transparentes e atualizados sobre a quantidade que os produtores brasileiros armazenam de café arábica, o preferido da rede Starbucks. Os estoques monitorados pela bolsa ICE Futures nos EUA estão no menor nível em 22 anos.
Preocupações com o estado da safra brasileira após dois anos de problemas climáticos e a crise na cadeia de suprimentos causada pela pandemia levaram os contratos futuros de arábica em Nova York para a maior cotação em uma década. Como ocorre com diversas commodities, a alta de preços do café contribui para o aumento do custo de vida no mundo inteiro. Embora sejam importante indicador do equilíbrio entre oferta e demanda, os estoques monitorados pela ICE totalizam cerca de 1 milhão de sacas de 60 quilos, sendo que o
Departamento de Agricultura dos EUA estima os estoques globais em 30 milhões de sacas. O último dado sobre os estoques brasileiros da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de março de 2020, com uma projeção de 13 milhões de sacas armazenadas. Muita coisa aconteceu desde então e a quantidade de café guardada hoje nos armazéns brasileiros é um mistério. Mas para Rueda, o maior problema não é a oferta para atender à demanda, mas o escoamento do produto. Além da escassez de contêineres que atrapalhou as exportações de café do Brasil no ano passado, o transporte terrestre também traz dificuldades em destinos importantes como os EUA, onde faltam caminhoneiros.
“Todo o processo logístico perdeu equilíbrio e para recuperar vai demorar um tempo”, disse Rueda, que também é diretor para América do Sul e América do Norte da Volcafe, uma das maiores tradings do mundo.
O Brasil exportou 2,8 milhões de sacas de café arábica em janeiro, representando um recuo de 10% em relação a um ano antes. A tendência de queda nos volumes deve se manter nos próximos meses, de acordo com a HedgePoint Global Markets. Houve melhora nos gargalos do transporte marítimo em janeiro, com aumento da disponibilidade de navios, mas ainda faltam contêineres, segundo Rueda. Por isso, os exportadores estão enviando café em sacas, chamadas de “big bags”, empilhadas nos porões dos navios, como faziam no passado, antes da era da logística de contêineres. Em 2021, cinco cargas desse tipo partiram de portos brasileiros e Rueda acredita que isso também ocorreu no mês passado.
“Esta modalidade de embarque veio para ficar”, acrescentou ele. Duas safras ruins consecutivas no Brasil devem manter os estoques do País perto do menor nível em décadas, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA. Essa situação deixa pouco espaço para novos problemas nas safras brasileiras. Qualquer geada pode piorar o quadro de oferta restrita. As perspectivas para a produção de café do tipo arábica melhoraram desde o final do ano passado, com o tempo chuvoso permitindo a recuperação dos cafezais, de acordo com Rueda. As chuvas recentes devem trazer maiores benefícios para a temporada 2023-24, mas também favorecem a safra atual, atenuando o impacto de secas e geadas recentes, durante a formação dos grãos. Além disso, os produtores de café do tipo robusta devem colher um volume recorde a partir de março ou abril, meses antes da colheita do arábica. “Isso ajudará a acalmar a sede do mercado”, afirmou Rueda.
Fonte: Bloomberg