Por* Rafael Pio
A figueira cultivada comercialmente no Brasil pertence à ordem Urticales, família Moraceae, subfamília Hamamelidae e subgênero Eusyce. Essa família contém cerca de 61 gêneros, sendo o maior gênero dessa família o Ficus, abrangendo aproximadamente 750 espécies, do total de 2.000 espécies que contêm a família Moraceae.
Gêneros
No gênero Ficus predominam plantas com hábito de crescimento arbóreo ou arbustivo, sendo rara a presença de plantas de crescimento herbáceo. Quase todas as espécies apresentam látex, composto por uma substância conhecida como ficcina, enzima proteolítica com propriedade hidrolisante da proteína, que pode causar dermatite entre os colhedores.
O gênero Ficus contém espécies conhecidas como figueiras do Brasil, sendo as mais populares a Ficus gomelleira (gameleiras), a Ficus elliotiana (figueira-do-pantanal), a Ficus pumila (hera miúda), a Ficus maxima (guaxinguba-preta), a Ficus obtusiuscula (lombrigueira), a Ficus tomentella (figueira-roxa) e a Ficus benjamina (figueira benjamim), extensamente utilizada na arborização urbana. As espécies de maior importância no Brasil são a Ficus elastica (seringueira) e a Ficus carica (figo).
Porte
A planta de figueira Ficus carica chega a atingir de três a sete metros de altura, sendo considerada uma planta de médio a grande porte, mesmo em regiões de climas semiáridos e solos pobres e locais com invernos rigorosos.
No Brasil, em razão das técnicas culturais empregadas na condução dos pomares, especialmente as podas anuais de frutificação realizadas no inverno, seguidas das desbrotas que condicionam o desenvolvimento de um número determinado de ramos por ano, a planta adquire um porte arbustivo, que normalmente atinge apenas 1,5 a 2,0 m de altura.
Floração
A figueira é considerada planta de folhas caducas. As folhas são típicas e bastante recorrentes para a identificação de cultivares, apresenta cinco lóbulos maiores e dois menores, margem crenada de coloração verde-clara, quando não completamente expandida e coloração escura quando em sua completa expansão.
As flores da figueira são pequenas, pediceladas, hipóginas e unissexuais, com perianto simples pentapartido. Existem três tipos de flores: as pistiladas (femininas) com estilo curto, as pistiladas (femininas) com estilo longo e as estaminadas (masculinas).
Ambas as flores pistiladas são simples, carpeladas e com estigma bífido. As flores pistiladas de estilo curto apresentam um ovário, aproximadamente, globoso e um estilo com cerca de 0,70 mm de comprimento, sendo adaptadas à ovoposição da vespinha do figo (Blastophaga psenes).
As flores de estilo longo apresentam um ovário mais ou menos ovoide ou elipsoide e o estilo com 1,75 mm de comprimento, porém, não adaptado à ovoposição da vespinha.
As flores pistiladas são férteis e após a polinização e singamia desenvolvem o fruto verdadeiro do figo, chamado de aquênio. Os aquênios normais, também conhecidos como grainhas, apresentam um embrião desenvolvido pelo endosperma e pelo tegumento.
Essas sementes apresentam tamanho de 1,5 a 2,0 mm e forma esférica, podendo encontrar-se até 2.000 sementes por fruto. Os figos, quando não polinizados, apresentam-se com ovário esclerificado, porém oco.
Os frutos
A parte suculenta do figo comestível consiste, principalmente, de tecido parenquimatoso dos órgãos florais, cujas células se tornam maiores e armazenam substâncias de reserva. Os figos são de formato piriforme, com 5,0 a 8,0 cm de comprimento, com tonalidade variando desde suavemente esverdeado à violáceo escuro.
Em sentido botânico, o figo não é propriamente um fruto, mas uma infrutescência derivada de uma inflorescência tipo capítulo denominada sicônio, com receptáculo côncavo, oco e perfurado na extremidade. A espécie F. carica é ginodioica, havendo duas distintas formas de plantas, o caprifigo, que é monoico e o figo, que é dioico.
Nos ramos formados na estação de crescimento anterior das figueiras, normalmente nota-se uma gema vegetativa bem desenvolvida por nó, entretanto, gemas adjacentes se encontram em número variável, próximas à gema desenvolvida.
Os primórdios florais formam-se tipicamente na axila de cada folha, onde uma gema central vegetativa é acompanhada por duas gemas florais. Algumas cultivares desenvolvem somente um figo por axila, enquanto que outras desenvolvem frutas de ambas as gemas, mas em épocas distintas.
As figueiras baforeiras constituem o único grupo que apresenta as três camadas de figo, ou seja, com sicônios em fase de desenvolvimento ao longo de todo o ano. Seus sicônios também são os únicos que apresentam as flores estaminadas, localizadas dentro do sicônio, ao redor do ostíolo.
Durante o florescimento dos caprifigos ocorre dicogamia tipo protandria bastante pronunciada, o pólen apresenta viabilidade de seis a oito semanas antes que os estigmas das flores femininas estejam receptíveis à germinação do pólen.
Assim sendo, em geral, não se verifica autofecundação, a não ser quando os figos da mesma planta mostram estágios diferentes de desenvolvimento. Também é o único grupo que contém as flores pistiladas de estilo curto, sendo os demais grupos apenas dotados de flores com estilo longo.
Necessidade térmica
Na região de origem da figueira predomina o clima mediterrâneo, de invernos frios e úmidos, com variação de temperatura no mês mais frio entre 18ºC e -3ºC, verões quentes e secos.
Por se tratar de uma fruteira nativa de uma região em que predomina o clima subtropical temperado, a figueira apresenta boa adaptação aos diferentes tipos de clima. Entretanto, possui limitações em seu desenvolvimento e produção de frutos quando é alocada em áreas com latitude acima de 45º S.
No Brasil, a figueira é cultivada desde as zonas mais frias dos Estados da região sul até as condições semiáridas nordestinas, visto que a cultivar ‘Roxo de Valinhos’ possui baixa necessidade em frio. Porém, apresenta melhor crescimento quando é cultivada na faixa de temperatura média de 20º a 25ºC. Temperaturas inferiores a 15ºC limitam seu crescimento.
Rafael Pio* – Engenheiro agrônomo, doutor e professor adjunto – Universidade Federal de Lavras (UFLA)