Instituto pretende atrair negócios sustentáveis inspirados nos princípios do ESG para a região. Segundo levantamento da Federação das Indústrias do estado, 40% da economia global está baseada em produtos e componentes derivados da biodiversidade
O Brasil, em especial a Amazônia, esteve no centro das discussões em Glasgow, na Escócia, durante a COP26. As Federações das Indústrias dos nove estados que compõem a Amazônia Legal estão atentas ao potencial da floresta e criaram o Instituto Amazônia+21, cujo objetivo é fomentar negócios sustentáveis na região. Rondônia, onde nasceu o projeto do instituto, é um exemplo de como os estados amazônicos podem se desenvolver sem degradar o ambiente.
O Instituto Amazônia+21 nasceu a partir do Fórum Mundial, em novembro de 2020, com o propósito de difundir os princípios de ESG (ambiental, social e governança, da sigla em inglês), apoiar a criação de novos negócios e projetos sustentáveis na Amazônia, bem como adequar empreendimentos já existentes para práticas sustentáveis, dialogando com as demandas locais e com a vocação econômica da região, que abrange 772 municípios e abriga cerca de 24 milhões de brasileiros. O comando ficou sob responsabilidade da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (FIERO), mas conta com a participação da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e demais Federações das Indústrias nos estados da Amazônia Legal.
O presidente da FIERO e também do Instituto, Marcelo Thomé, explica que a concepção do Instituto Amazônia+21 contempla uma pauta de negócios que enxerga na região o principal vetor de desenvolvimento sustentável do Brasil e da indústria verde brasileira. O objetivo, segundo ele, é fazer justamente a interação entre o empresário amazônico, que conhece bem e deve apresentar sua realidade, com aquele que pode investir e impulsionar projetos de impacto.
“Seremos o elo de quem produz e conhece o local e aqueles que têm interesse e compromisso de investir de maneira sustentável, tornando-se aliados na conservação da Amazônia”, destaca Thomé. “Vamos gerar e impulsionar projetos de impacto positivo a partir do que é próprio daqui da região”.
Levantamento da FIERO aponta que 40% da economia global está baseada em produtos e componentes derivados da biodiversidade. “O bioma Amazônico é a base mais valiosa para geração de riquezas a partir de negócios sustentáveis”, considera o presidente do Instituto.
Segundo Diogo Martins, assessor especial de políticas públicas e governança climática da Secretaria do Estado, Rondônia já vem desempenhando o seu papel de desenvolvimento sustentável com projetos voltados à economia verde, ao mercado de carbono florestal e à remuneração por serviços ambientais, de modo a recuperar áreas degradadas e preservar o meio ambiente da Amazônia Legal no estado.
“Um dos eixos dos planos de ação do estado de Rondônia, principalmente para o desenvolvimento sustentável de baixas emissões, é o eixo da bioeconomia, que vem para fortalecer as cadeias produtivas do estado de Rondônia, principalmente a castanha da Amazônia e o cacau. Rondônia vem fortalecendo essas cadeias coletivas também por meio de políticas públicas, como a instituição do selo verde para boas práticas em unidade de conservação e vem fortalecendo essas políticas públicas para incentivar ainda mais essa economia verde”, ressalta Diogo.
O assessor também ressaltou que Rondônia tem um dos maiores projetos mundiais de REDD+ (recompensa financeira para Redução de Emissões de gases de efeito estufa, provenientes do Desmatamento e da Degradação florestal), na reserva Rio Cautário, onde a população local vive da biodiversidade, produzindo e, ao mesmo tempo, sustentando e protegendo a natureza.
“Rondônia, hoje, conta com dois projetos em funcionamento nas reservas extrativistas do Rio Preto Jacundá e do Rio Cautário e estão relacionados ao sequestro de carbono e ao desmatamento evitado. Um desses projetos já conta com o pagamento de serviços ambientais para a comunidade”, relata Diogo.
No último dia 16, a Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Rondônia (Emater) anunciou que está assumindo um importante papel na agenda de preservação da região, com a gestão e implementação de ações voltadas especificamente para apoiar os Projetos de Recuperação de Áreas Degradadas e Alteradas (Pradas). O objetivo é dar apoio aos agricultores familiares nos processos de adequação ambiental dos imóveis rurais, incluindo tecnologias e práticas de produção sustentáveis nas áreas de uso alternativo do solo.
As principais iniciativas do Instituto Amazônia+21, em 2022, devem se concentrar no biogás, que é a produção de energia limpa, a partir da decomposição de matéria orgânica, e a integração lavoura, pecuária e floresta (ILPF), um sistema produtivo que agrega, num mesmo espaço, o componente da agricultura, o da pecuária e, em algumas situações, o florestal, e que aumenta a produtividade, reduz os custos e diversifica a produção ao passo em que promove a recuperação ambiental.
ESG e a economia verde
O Instituto Amazônia+21 é voltado para fomentar novos modelos de negócios capazes de promover o desenvolvimento sustentável nos estados da região amazônica. A ideia é proteger a biodiversidade com adoção de práticas produtivas de baixa emissão de gases poluentes e alinhadas com as metas estabelecidas pela chamada economia verde, apoiada em três pilares: ambiental, social e governança (da sigla em inglês ESG).
Segundo Karen Oliveira, gerente para Políticas Públicas e Relações Governamentais da TNC Brasil, organização não governamental que atua há 30 anos na Amazônia com foco em conservação e mitigação de mudanças climáticas, a economia verde é um modelo de desenvolvimento baseado em soluções encontradas na natureza. Além do que a floresta já oferece naturalmente, como os ciclos de água e captura de gases do CO², ela contribui com produtos madeireiros e não madeireiros. E o mercado mundial atento à economia verde exige, cada vez mais, que os empreendimentos tenham cuidados sociais e ambientais.
“Quando a gente fala da economia verde nós estamos nos baseando numa economia que não é intensiva em carbono, o que a gente chama de uma transição para uma economia de baixo carbono, baseada no uso sustentável da floresta e que respeita os povos da floresta, respeita as comunidades tradicionais, respeita os indígenas que vivem nessa região e que busca conciliar desenvolvimento com conservação”, explica Karen.
O Instituto Amazônia+21 esteve presente na COP26 porque o encontro não foi apenas uma Conferência Climática, mas tratou também de biodiversidade, uma vez que os assuntos estão interligados. Um dos temas que marcou o evento foi a conservação da floresta, ao mesmo tempo em que se promoveu o crescimento econômico que todos os países almejam. Tanto que o pacto assinado pelos países que participaram da COP26 trouxe temáticas ligadas às soluções baseadas na natureza como um instrumento de enfrentamento às mudanças climáticas.
Karen destaca que o mundo tenta implementar, desde a Conferência Rio92, o conceito de desenvolvimento sustentável, e a economia verde é uma solução vantajosa para se continuar produzindo e se desenvolvendo econômica e socialmente. “O desenvolvimento sustentável nada mais é do que garantir para gerações futuras as mesmas quantidades de recursos naturais que temos hoje disponíveis na natureza”, explica.
Histórico
A criação do Instituto Amazônia+21 resultou dos debates do Fórum Mundial da Amazônia de 2020, que foi sediado em Porto Velho (RO) e ocorreu de forma virtual. A iniciativa visa fortalecer as políticas de ESG.
O termo vem ganhando ainda mais destaque no mundo dos negócios com a incorporação desses conceitos dentro da Bolsa de Valores. Em 2020, os chamados títulos verdes movimentaram uma quantia que chegou à casa dos trilhões de dólares em todo o mundo.
Fonte: Brasil 61