Uma vaca ingere muitos quilos de alimentos e os transformam em leite diariamente. Entre estes alimentos (ingredientes) temos aqueles que denominamos ‘forragens’ e ‘concentrados’. O balanceamento entre eles é justamente feito para maximizarmos a saúde e a produção de leite da vaca.
Como ela é um animal ruminante, por obrigação deve ingerir forragem, a qual fornece fibra para a mastigação e energia para a produção do leite. Existem várias fontes de forragem, mas a silagem, em alguma parte ou do total da vida da vaca tem sido a principal fonte.
Ok! Até aqui não há nenhuma novidade. Contudo, se focarmos a nossa atenção nos alimentos que são diariamente ingeridos pelo animal, em termos quantitativos, a silagem representa entre 40 a 70% do montante que o animal consome. Como comentamos que os alimentos são fornecidos para garantir saúde e produção, conclui-se que a silagem, em grande parte, é quem ‘sustenta’ a vaca.
Portanto, eu gostaria de saber se você já havia pensado nisso. Se você me responder que sim, possivelmente produz silagem de alta qualidade na propriedade. Alguns ainda não haviam raciocinado desta forma, mas vêm mantendo os cuidados com a confecção da silagem. Contudo, outros (em algumas situações muitos) não perceberam que a silagem é quem ‘move’ o leite na fazenda. Sem aqui desconsiderar outras áreas do sistema produtivo (sanidade, reprodução e etc), mas quem produz forragem de alta qualidade, tem garantido volume de leite e receita na propriedade, porque o restante, e não menos importante, vem em cadeia.
Com o passar dos anos, avanços na nutrição da vaca foram alcançados, ou seja, estamos sabendo mais como a ‘máquina’ funciona internamente. Quanto mais sabemos sobre nutrição, maior é a importância da silagem. Por exemplo, muitos tratavam (ou ainda tratam) ‘fibra’ como algo ruim, sinônimo de pouco leite. Mas não é! Fibra é o ‘ingrediente’ chave para manter a saúde ruminal da vaca. Atualmente, podemos saber o quanto a silagem tem de fibra, o quanto dessa fibra é digestível, o ‘tamanho’ (mm; cm) da fibra, ou seja, fibra não é o problema… fibra é a solução.
Portanto, não trate mal a tua silagem. Além de afetar negativamente o teu bolso (perdas), você também tratará mal a tua vaca. Isto significa que a silagem custa dinheiro de 3 maneiras:
i) ela mesma;
ii) custos com insumos para tratar a vaca por insalubridade e;
iii) na forma de leite (o que deixa de ser produzido).
Vamos aos exemplos, primeiro: muitos produtores pensam que as perdas no topo do silo são consideradas como ‘normais’. Façamos um cálculo: imaginem que os 20 cm periféricos estão sendo descartados diariamente em um silo com 50 m de comprimento e 5 m de largura. Se a silagem do topo tiver 550 kg/m3 de densidade, 27,5 toneladas serão jogadas fora. Se cada tonelada custar R$ 150, o produtor ‘descartou’ R$ 4125.
Segundo exemplo: silagem mal conservada é fonte de micro-organismos e compostos que afetam a imunidade e a reprodução do animal. Imagine os gastos que já foram gerados com medicamentos e assistência técnica com veterinários para tratar os animais com problemas provenientes do mau manejo da silagem. Imaginou?
Terceiro e último exemplo: recentemente, dois irmãos que gerenciam uma fazenda de leite me disseram que pagam R$ 50 a mais por hectare para o prestador de serviço quebrar os grãos da silagem de milho no momento da colheita. Fizeram um cálculo simples: consideraram que se a silagem tiver os grãos rompidos a vaca dará 1 litro de leite a mais por dia, ou seja, vale muito a pena pagar o ‘bônus’ ao dono da colhedora.
Estou certo que muitos clicaram para ler este artigo pensando que eu fosse comentar sobre preço da tonelada de silagem, custos de produção e etc. Contudo, o ‘papo’ aqui hoje é mais ‘filosófico’ do que ‘técnico’. É justamente para ‘forçar’ produtores e técnicos a compreenderem que a silagem é uma engrenagem fundamental da propriedade leiteira.
Fonte: MilkPoint