*Por Ana Cristina Andrade Bezerra
Desde 2008, acompanho de perto a transformação da pecuária no Pantanal, um dos biomas mais desafiadores e ricos do Brasil. O que era, há quase duas décadas, um cenário marcado por novilhas de primeira cria com baixo score de condição corporal e altas taxas de falha reprodutiva, se tornou, em 2025, um retrato de eficiência e equilíbrio: rebanhos com prenhez acima de 80%, mesmo nas fêmeas jovens.
Essa evolução não aconteceu por acaso. É fruto de um trabalho contínuo, com manejo nutricional baseado em ciência, escuta ativa ao produtor e capacitação de equipes. O que muitas vezes chamamos de revolução silenciosa no campo não aparece nas manchetes, mas transforma profundamente a base da produção de alimentos no país.
Um dos pilares dessa mudança foi a melhoria da nutrição animal. A introdução de pastagens adaptadas ao bioma, como a humidicula, permitiu a recuperação da condição corporal das matrizes e a redução do intervalo entre partos. Assim, a suplementação estratégica, com uso de tecnologias nutricionais mais avançadas, também teve papel fundamental — mas exigiu, em contrapartida, um salto de preparo da mão de obra.
E é aqui que está um dos principais aprendizados dessa trajetória: sem gente treinada, não há tecnologia que resolva. Métodos de manejo mais precisos passaram a ser necessários, e encontramos trabalhadores que, inicialmente, não estavam preparados para essa nova realidade. Investimos em formação, em capacitação contínua, e vimos o conhecimento se traduzir em resultados.
Um exemplo a ser citado é o resultado obtido na estação de monta de novilhas na Fazenda Baia das Pedras, no Pantanal da Nhecolândia: um lote de 502 animais, com apenas 67 vazias e peso médio próximo a 400 kg. Esse tipo de dado expressivo é a ponta do iceberg de um processo construído com consistência, paciência e parceria com o produtor. É importante lembrar que esse caminho não foi linear. O Pantanal impõe suas limitações naturais, como alagamentos, secas severas e infraestrutura desafiadora. Se fosse uma reta, seria simples. Mas é justamente nesse percurso sinuoso que se constrói uma pecuária mais resiliente, sustentável e produtiva.
A história dessas propriedades pantaneiras é uma lição viva de que a integração entre conhecimento técnico e realidade local pode gerar transformações permanentes. E mais do que números, essa revolução é feita de pessoas: produtores comprometidos, técnicos atentos e trabalhadores que aprenderam, cresceram e se tornaram protagonistas dessa mudança.
Essa é a pecuária que acreditamos e praticamos. Ainda que por muitas vezes silenciosa, profundamente revolucionária.
*Ana Cristina Andrade Bezerra – Médica Veterinária na Servsal.
Fonte: “Novilho Precoce MS”