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A fascinante profusão de usos da soja

Por Décio Luiz Gazzoni*

Em artigo anterior abordamos os processos básicos e tradicionais para obtenção de grandes linhas de insumos industriais, a partir da soja. No presente artigo vamos comentar sobre uma nova linha de obtenção de insumos e transformação industrial, a química verde.

A química verde utiliza fontes renováveis para produzir insumos, substituindo as fósseis, como petróleo, gás ou carvão. Um exemplo icônico é a soja com alto teor de ácido oleico, que resulta em óleo que permanece estável em altas temperaturas, fator essencial para obter combustíveis e lubrificantes automotivos. Outras categorias de produtos obtidos com soja são adesivos, revestimentos, fibras, papel, plástico, tintas, borrachas e solventes.

O óleo de soja emulsionado é uma tecnologia de processo econômica para biorremediação de águas subterrâneas. O processo é eficaz e dura mais tempo devido à lenta degradação e liberação de hidrogênio do que outros processos disponíveis. Formulações de óleo de soja também estão sendo usadas como auxiliares de recuperação de petróleo bruto.

Um agente aglutinante produzido com farinha de soja, usado no isolamento em construções, elimina a liberação de compostos orgânicos voláteis (COVs), como o formaldeído, que é um produto cancerígeno. Resinas isentas de formaldeído são obtidas com farelo ou farinha de soja e incorporadas em compostos de madeira como compensados, painéis, aglomerados e pisos.

Adesivos à base de proteína de soja modificada quimicamente redundam em ligações fortes e resistentes ao calor, ao aderir em substratos de papel, incluindo adesivos líquidos de secagem rápida para embalagens. Também são usados como redutores de ruídos em ambientes.

Pesquisas conduzidas na Iowa State University, financiadas pela Iowa Soybean Association, resultaram em asfalto à base de soja. O produto combina pavimento asfáltico 100% reciclado, misturado com um polímero derivado da soja, aumentando a durabilidade e a longevidade e reduzindo os custos de manutenção.

De pneus a tintas

Desde 2017 a Goodyear produz pneus usando óleo de soja, com durabilidade garantida de 140 mil quilômetros. O objetivo da empresa é eliminar a dependência de petróleo até 2040, um bom indicador para a demanda futura de soja. Usando a mesma tecnologia, os tênis de corrida Skechers são produzidos com óleo de soja.

Muitos dos jornais diários dos Estados Unidos, e de outros países, usam tinta de soja em suas prensas. Além disso pode ser usada em toner para copiadoras e impressoras de computador. Novas tecnologias de impressão a jato de tinta substituirão métodos tradicionais como offset, rotogravura, flexografia e serigrafia nos próximos anos, aumentando a demanda de soja.

A soja está presente não apenas tinta, mas na indústria de papel. As aplicações na indústria de papel e papelão incluem agentes de colagem, remoção de adesivos, auxiliares de retenção e drenagem, surfactantes e revestimentos de barreira, aglutinantes e lubrificantes. A lipoxigenase do farelo de soja é usada para eliminar substâncias pegajosas em polpação e fabricação de papel. Tanto a lipoxigenase pura, quanto a farinha de soja, previnem a deposição de adesivos ou lipídios artificiais, substitutos para membranas artificiais ou folhas de fibra celulósica.

Existe um processo para obtenção de papel de embalagem resistente à água, que incorpora uma combinação de lecitina de soja e uma pequena quantidade de proteína de soja. Ainda na indústria papeleira, a substituição de 33% do óleo de linhaça por óleo de soja no revestimento de papel vegetal, reduz em 8% os custos, ao eliminar a mão de obra que era usada na remoção de resíduos, além dos custos de descarte e redução da pegajosidade do revestimento.

 Química verde é uma forte tendência portadora de futuro. A sociedade mundial pressiona por processos mais sustentáveis para a obtenção de produtos de consumo, que substituam as fontes fósseis. É a grande oportunidade para a expansão dos usos da soja.

Por Décio Luiz Gazzoni, engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, membro fundador do Comitê Estratégico Soja Brasil e do Conselho Científico Agro Sustentável*

Fonte: Mariana Cremasco

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