Foram anos de incertezas, baixa produtividade e, até mesmo, o abandono total da atividade na bovinocultura do leite para muitos moradores das comunidades rurais das cidades de Lontra e Japonvar, no Norte do estado. Com pouco acesso a novos conhecimentos técnicos, os bovinocultores não conseguiam registrar retornos financeiros suficientes. A realidade foi transformada a partir de 2020, com a chegada do Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG). Cinco anos depois, o trabalho realizado pela equipe do Sistema Faemg Senar segue dando bons frutos e modificando a vida dos produtores rurais.
Ao longo dos dois anos de ATeG, os produtores melhoraram o manejo alimentar, preparo do solo, produção de alimento, genética e a gestão financeira. Resultado, agora eles conseguem manter a entrega diária de leite nos três tanques instalados nas comunidades, que chegaram ao seu quarto ano de funcionamento sem interrupção, o que não acontecia há anos.
“Tivemos muitas dificuldades no início. Poucos produtores faziam a entrega de leite. Então, as empresas não deixavam o tanque, por não ter produção em quantidade que compensava. O tanque ficava alguns meses e era retirado. Depois do ATeG muitos produtores conseguiram manter a produção do ano inteiro, que era um dos desafios principais das comunidades. Hoje a maior fonte de renda da região vem do leite”, explicou a produtora Osvania Gonçalves de Souza, presidente da associação de produtores de leite da região.
A organização da cadeia produtiva local foi sendo construída aos poucos, tendo a difusão de conhecimentos como ponto principal. Weudes Andrade, técnico de campo à época, comenta que a implantação da linha de captação de leite com tanques de expansão era algo improvável no início dos atendimentos do ATeG. Até então, os tanques operavam por seis meses e eram retirados.
“Percebemos que era hora de buscar uma alternativa mais viável e sustentável. Foi assim que surgiu a ideia de criar uma linha de captação de leite, permitindo que os produtores vendessem o leite diretamente para os laticínios. Com essa mudança, os resultados começaram a aparecer rapidamente”, lembrou Weudes Andrade.
Nova realidade
Receita mais estável e regular; menos custos e menos tempo de trabalho; acesso a novos mercados; e mais segurança financeira para investir na atividade foram os principais ganhos. Foi o que ocorreu com Edson Wander Gandra Oliva, que é produtor de leite há 30 anos. Ele sempre atuou na atividade, mas com muitas limitações, principalmente informações de gerenciamento. “Eu não acompanhava os números do negócio”, explicou.
Atuando na melhor alimentação e genética dos animais, e acompanhando gastos e retorno, ele conseguiu expandir seu negócio após tantos anos dedicados. “Aumentei a produção. Depois do ATeG gerou entusiasmo, passamos a ter acesso a coisas corretas e passamos a erra menos. Antes eu só entregava o leite nos comércios locais, média de 40 a 60 litros por dia, no máximo. Agora são 150 litros, até dezembro deste ano espero chegar a 200 litros e para 2026 planejo um novo salto de produção”, comentou com orgulho Edson Wander.
Mesmo nesta época do ano, com a escassez de chuvas no seu pico na região, os tanques captam mais de 700 litros por dia.
Ânimo para investir
Com a estruturação produtiva e coleta garantida do leite, a um preço competitivo no mercado regional, muitos produtores passaram a visualizar na atividade uma nova alternativa segura para movimentar a renda das propriedades.
Adílio Simões de Oliveira, por exemplo, é um dos produtores de leite mais novos, com pouco mais de dois anos na cadeia produtiva. Ele comenta que decidiu, após muitos anos, voltar a viver no campo para dar à família qualidade de vida, e escolheu a produção de leite como um dos principais meios de rentabilizar o trabalho.
“Após alguns anos fora, o ‘DNA do mato’ falou mais alto. E para sobreviver da roça precisamos usar todas as alternativas, e o leite é o campo mais amplo de oportunidades. É uma pequena produção, mas que ajuda. E com o tanque de leite posso entregar, garantir o valor e voltar a trabalhar na fazenda, sem precisar fazer venda de porta em porta”, alegou o produtor.
Para 2026, o planejamento dos produtores e da associação, que foi montada após o ATeG, é a compra coletiva e estratégias para redução de custos, além de seguir trilhando o caminho mais técnico dentro dos negócios rurais. “Olhar para trás e ver que essa ação transformou a rotina de muitos produtores me deixa muito feliz. Hoje, eles têm mais oportunidades, mais renda e mais segurança no campo”, finalizou o técnico de campo Weudes Andrade.
Minas Grita pelo Leite
Apesar das boas notícias, o alerta em relação à desvalorização do produtor de leite segue como ponto de atenção do Sistema Faemg Senar em todo o estado. Desafios e propostas para defender o setor leiteiro de práticas abusivas de importação (vindas do Mercosul) e para melhorar o preço pago pelo leite fazem parte do movimento “Minas Grita pelo Leite”, capitaneado pela Faemg junto aos diversos parceiros regionais.
As ações institucionais em andamento contam com diálogo contínuo com o governo estadual, por meio da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), e as articulações em nível federal com o Ministério da Agricultura e a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), para discutir medidas que possam proteger e fortalecer o produtor rural diante da crise enfrentada pelo setor leiteiro.
Fonte: Ricardo Guimarães



