Casos recentes de intoxicação por metanol após ingestão de bebidas alcoólicas nos estados de São Paulo e Pernambuco acendem um alerta para a necessidade urgente de investimentos em recursos humanos e estrutura voltados às ações de inteligência no combate a crimes envolvendo produtos de origem animal e vegetal, incluindo bebidas e alimentos, que colocam em risco a saúde da população. Diversas ocorrências foram confirmadas, mais de 15 estão em investigação e cinco pessoas já morreram em decorrência da ingestão da substância altamente tóxica.
As investigações apontam que falsificadores “batizavam” bebidas como gin e vodca de marcas conhecidas com metanol, que posteriormente eram comercializadas e consumidas pelas vítimas. Até o momento, não há informações sobre em qual etapa da produção ou distribuição ocorreu a adulteração, nem quem seriam os responsáveis ou se outros destilados também foram comprometidos.
Até seis horas após a ingestão, a pessoa intoxicada pode apresentar dor abdominal intensa, sonolência, falta de coordenação, tontura, náuseas, vômitos, dor de cabeça, confusão mental, taquicardia e pressão arterial baixa. Até 24 horas após a ingestão, a lista de sintomas inclui visão turva, fotofobia, visão embaçada, pupilas dilatadas, perda da visão das cores, convulsões e coma. Em casos mais graves, o paciente pode evoluir para cegueira irreversível, choque, pancreatite, insuficiência renal, necrose de gânglios, tremor, rigidez, lentidão dos movimentos e chegar ao óbito. Assim, recomenda-se a assistência médica imediata.
O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical) destaca que as bebidas regulares possuem registro e são fiscalizadas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), portanto é imprescindível verificar a procedência dos itens consumidos. Já os casos de intoxicação envolvem produtos irregulares, fruto de práticas criminosas e que, por isso, estão sob investigação policial.
Por conta disso, para o Anffa Sindical, o episódio reforça a importância de ampliar as ferramentas de inteligência no enfrentamento a práticas criminosas que atentam contra a saúde pública e só podem ser combatidas com estrutura e servidores em número adequado. O presidente, Janus Pablo Macedo, destaca a atuação do Programa de Vigilância em Defesa Agropecuária para Fronteiras Internacionais (Vigifronteira), conduzido pelos auditores fiscais federais agropecuários que, em articulação com forças policiais, já apreendeu mais de 500 mil litros de bebidas irregulares desde 2020.
“O trabalho de fiscalização é estratégico para impedir a entrada e a circulação de produtos irregulares no País. Os profissionais que atuam no Vigifronteira têm como foco a repressão de ilícitos. Mas o avanço desse tipo de crime só poderá ser combatido com investimentos adequados em inteligência, tecnologia e, principalmente, na recomposição dos nossos quadros de servidores. Sem isso, a saúde pública continuará exposta”, afirma o presidente do Anffa Sindical.
Ele ressalta ainda que os riscos não se limitam às bebidas adulteradas: diferentes modalidades de fraude envolvendo produtos estão presentes em todo o País, o que exige estratégias articuladas de fiscalização e repressão. Nesta lista, incluem-se também alimentos e medicamentos de uso veterinário.
O Anffa Sindical lamenta profundamente as vítimas do episódio em São Paulo e em Pernambuco, defende a continuidade das investigações e cobra punição rigorosa aos responsáveis. O sindicato ainda reforça que somente com ações firmes, articuladas e estruturadas será possível proteger a saúde da população e evitar novas tragédias.
Fonte: Fernanda Balbino