A qualidade das rações utilizadas na aquicultura desempenha papel crucial na saúde dos peixes e no equilíbrio ambiental dos viveiros. De acordo com o consultor em aquicultura da Aquabusiness e diretor Tesoureiro da Peixe BR, João Manoel Cordeiro Alves, a escolha dos ingredientes e o processamento adequado da alimentação impactam diretamente a qualidade da água e a sustentabilidade da produção e desempenho dos peixes.
“Assim como nós, os peixes não aproveitam 100% do alimento ingerido. Parte dos nutrientes é sempre excretada, na forma de fezes ou urina. Esses resíduos, quando em excesso, podem comprometer a qualidade da água”, explica Alves.
Segundo ele, a formulação correta da ração é essencial para evitar desperdícios e reduzir impactos ambientais. “Quando a ração contém ingredientes de alta digestibilidade, o peixe consegue absorver melhor os nutrientes, resultando em menor excreção e, consequentemente, menor carga de resíduos na água”, detalha.
Além da composição, o processamento da ração também influencia na eficiência alimentar. Rações extrusadas — aquelas em formato de pequenos grãos compactos, semelhantes às usadas na alimentação de cães — passam por um processo de cozimento que aumenta a digestibilidade em comparação com rações cruas ou fareladas. “A moagem adequada e o cozimento facilitam o trabalho do sistema digestivo dos peixes, permitindo melhor aproveitamento dos nutrientes”, completa Alves.
Somado a isso, é necessário adequar a ração a cada fase de desenvolvimento dos animais. “Peixes jovens, em crescimento ou prontos para o mercado têm exigências nutricionais diferentes. Um bom manejo nutricional garante maior produtividade, saúde dos peixes e preservação do ambiente”, realça Alves.
Diferencial brasileiro na produção de ração de alta qualidade
Na avaliação do presidente da Peixe BR, Francisco Medeiros, o Brasil tem condições privilegiadas para produzir rações de alta qualidade, fator que contribui diretamente para o bom desempenho da aquicultura nacional.
“O valor e a qualidade de uma ração estão relacionados a vários fatores, que vão desde a matéria-prima até a formulação e os equipamentos utilizados na fabricação. No Brasil, temos excelência nesses itens, inclusive com alguns dos melhores profissionais na área de formulação, fruto da nossa experiência com outras cadeias de proteína animal, como suínos, aves e bovinos”, compartilha Medeiros.
Além disso, a diversidade de matérias-primas produzidas no país faz toda a diferença, e o Brasil conta com um dos melhores parques industriais do mundo para fabricação de ração, tanto com equipamentos nacionais quanto importados.
No rol de soluções, a base vegetal das rações brasileiras já representa um avanço importante em termos de sustentabilidade. “Nossas rações têm uma forte base vegetal, o que por si só eleva o índice de sustentabilidade. Além disso, a produtividade da tilápia no Brasil, que é a maior do mundo, exige alimentos de qualidade excepcional, fundamentais para manter a saúde dos peixes e garantir a qualidade da água”, explica o presidente da Peixe BR.
Sob essa perspectiva, segundo Alves, com escolhas corretas, o setor reduz impactos e cria sistemas mais equilibrados, beneficiando tanto os produtores quanto os consumidores.
Sustentabilidade vai muito além do meio ambiente
A sustentabilidade na aquicultura vai além do cuidado com os recursos naturais. De acordo com Alves, ela se baseia em três pilares fundamentais: social, econômico e ambiental. O equilíbrio entre esses fatores garante a perenidade do negócio e a qualidade dos produtos entregues ao mercado.
“Não posso enriquecer às custas da exploração do meio ambiente ou das pessoas que trabalham comigo. A atividade só é realmente sustentável quando gera lucro, preserva os recursos naturais e promove condições dignas para todos os envolvidos”, afirma.
Para Alves, uma aquicultura sustentável deve apresentar resultados claros, a exemplo de peixes saudáveis, com baixa mortalidade; boa conversão alimentar, ou seja, menor gasto de ração para produzir um quilo de peixe; água de qualidade, sem sinais de degradação; e remuneração justa, tanto para o produtor quanto para os trabalhadores.
“Quando conseguimos unir esses fatores — lucro, preservação ambiental e bem-estar social —, garantimos a continuidade da produção e o fortalecimento de toda a cadeia aquícola”, conclui Alves.
Fonte: Valéria Campos