*Por Ricardo Gomes
Em meio à imensidão do Cerrado brasileiro, uma semente carrega um potencial ainda pouco reconhecido — mas capaz de transformar a vida de agricultores, comerciantes e comunidades inteiras: a castanha de Baru. Um bioativo de alto valor agregado que, apesar de sua versatilidade e riqueza nutricional, segue pouco aproveitado em grande parte do país.
Considerada uma castanha versátil e um antioxidante natural, o Baru é a matéria-prima de diversos produtos, como óleos, farinha, manteiga e até receitas gourmet. Seu valor nutricional e funcional é elevado, o que faz com que seja cada vez mais buscado por marcas e consumidores atentos à saúde e à origem dos alimentos. No entanto, mesmo com sua crescente valorização o Baru ainda é, para muitos, apenas mais uma árvore nativa do Cerrado brasileiro.
Na prática, cada árvore de Baru pode produzir até 150 quilos de frutos por safra — o que resulta em cerca de 4 a 5 quilos de castanhas. Para pequenos e médios produtores, a comercialização dessa castanha representa uma fonte significativa de renda, especialmente em sistemas de agrofloresta, onde o Baru pode ser cultivado em consórcio com outras espécies nativas. Um hectare bem manejado pode gerar até R$45 mil por ano.
Além disso, o Baru também beneficia a pecuária. Por ser uma árvore alta e frondosa, oferece sombra natural à pastagem, criando um ambiente mais confortável para a pecuária tropical, aumentando sua produtividade. É, portanto, um exemplo de como o uso inteligente da biodiversidade pode gerar ganhos ambientais e econômicos simultaneamente.
Em parceria com a Universidade Federal do Piauí (UFPI), a Bio2Me desenvolveu um projeto inovador que explorou o potencial da polpa de Baru na alimentação animal e humana. Nos ovinos, a inclusão da polpa na dieta melhorou a qualidade nutricional e o desempenho produtivo, ao mesmo tempo em que promoveu uma alternativa sustentável e financeira ao insumo tradicional, como o milho. A pesquisa apontou que o Baru não compromete o sabor, a maciez e nem o aroma da carne destinada ao consumo humano, ou seja, contribui para uma cadeia alimentar mais saudável e sustentável.
Na Bio2Me, temos buscado ressignificar o uso do Baru como um bioativo estratégico. Nossa fazenda Baru 1, localizada em Goiás, atua como polo de produção e incentivo ao comércio local. A partir dela, ajudamos a impulsionar empórios, lojas de produtos naturais e redes de distribuição nas regiões Centro-Oeste e Sudeste.
O desconhecimento sobre o potencial econômico e ecológico do Baru limita seu uso, restringindo oportunidades que poderiam beneficiar milhares de famílias ligadas à produção rural e à cadeia de valor do agronegócio sustentável. Nosso desafio — e também nosso compromisso — é mostrar que investir no Baru é investir em um modelo de desenvolvimento regenerativo, que respeita a natureza, promove inclusão e estimula uma nova economia de base florestal.
Olhar para o Cerrado não apenas como um bioma a ser preservado, mas como um ecossistema vivo de oportunidades. E o Baru, com toda a sua força e versatilidade, tem papel central nessa transformação.
*Ricardo Gomes, COO da Bio2Me.
Fonte: Base Comunica