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Tensões no Oriente Médio e os riscos ao agronegócio brasileiro

*Por Paula Cristiane Oliveira Braz

O recente conflito militar entre Irã, Israel e Estados Unidos acendeu um alerta global, com repercussões não apenas na geopolítica, mas também no comércio internacional — especialmente no agronegócio. O Brasil, como potência agrícola, está diretamente exposto aos impactos econômicos decorrentes da instabilidade no Oriente Médio, uma região que abriga importantes parceiros comerciais como Irã, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Síria.

A chamada “guerra de 12 dias” entre Israel e Irã foi oficialmente encerrada em 24 de junho de 2025, com um cessar-fogo anunciado como “total e completo” pelo presidente dos EUA. Entretanto, o ambiente continua volátil. O Irã afirmou ter vencido a disputa, mas Israel sinalizou que suas operações contra alvos estratégicos ainda podem continuar. Os Estados Unidos, por sua vez, lançaram ataques a três instalações nucleares iranianas, que, segundo o Pentágono, atrasaram o programa nuclear de Teerã em até dois anos.

Apesar da trégua, os impactos comerciais e logísticos já começaram a ser sentidos. O agronegócio brasileiro, cuja balança comercial depende fortemente das exportações para países muçulmanos, encontra-se em posição de vulnerabilidade. O Irã, por exemplo, é um dos maiores importadores de milho, carne e soja do Brasil, com cifras que ultrapassaram US$ 2 bilhões em 2024, de acordo com dados do Ministério da Agricultura. O bloqueio de rotas comerciais e o aumento do custo de frete marítimo já pressionam os preços e ameaçam o escoamento regular desses produtos.

Além do Irã, países como Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Síria também têm relevância no mercado halal — certificação essencial para exportações brasileiras de proteína animal. A instabilidade na região pode provocar retração de compras por parte desses países, por incertezas cambiais e riscos logísticos. Os Emirados, por exemplo, compraram mais de US$ 1,3 bilhão em carnes brasileiras em 2024, e representam uma porta de entrada estratégica para o mercado asiático.

A elevação do risco geopolítico no Golfo Pérsico também pressiona os preços internacionais do petróleo, o que afeta o custo dos insumos agrícolas no Brasil, como fertilizantes e combustíveis. Com o Irã ameaçando fechar o Estreito de Ormuz — por onde passa cerca de 20% do petróleo mundial — há temores de encarecimento no transporte marítimo e maior volatilidade nos preços globais de alimentos e energia.

Outro fator preocupante é o risco de isolamento diplomático. O Irã sinalizou que só retomará negociações nucleares com o Ocidente caso cessem os ataques americanos. Isso dificulta previsões para exportadores, já que sanções internacionais podem voltar a afetar canais de pagamento e seguros de carga.

Apesar disso, há oportunidades: o Brasil pode se posicionar como fornecedor confiável em tempos de escassez. A diversificação de rotas e acordos com outros países árabes, como Omã e Kuwait, pode mitigar perdas. No entanto, o momento exige cautela e planejamento, especialmente para cadeias que dependem de vendas para o Oriente Médio.

Em resumo, o conflito Irã-Israel-EUA, embora aparentemente arrefecido, representa um alerta estratégico para o agronegócio brasileiro. A volatilidade da região afeta diretamente o comércio com importantes mercados islâmicos, encarece custos logísticos e energéticos, e exige atenção redobrada do setor exportador, que deve se preparar para cenários alternativos em caso de nova escalada regional.

*Paula Cristiane Oliveira Braz é administradora, especialista em agronegócio e tutora dos cursos de pós-graduação na área de Agronegócios do Centro Universitário Internacional Uninter.

Fonte: Julia Estevam

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