Juíza aceitou o pedido de recuperação judicial de gigante do agro com quase R$ 1 bilhão em dívidas; crises políticas podem influenciar cenário, criando incertezas que podem agravar o endividamento do setor .
Os pedidos de recuperação judicial no agronegócio brasileiro são diretamente impactados pela situação econômica do país, especialmente em períodos de alta dos juros, inflação elevada e crise cambial. Quando o custo do crédito agrícola aumenta devido às políticas monetárias restritivas, muitos produtores rurais e empresas do setor enfrentam dificuldades para rolar dívidas, especialmente aqueles que dependem de financiamento para custeio e investimento. Além disso, a volatilidade dos preços das commodities e os aumentos nos custos de insumos (como fertilizantes e defensivos, muitas vezes importados) pressionam a rentabilidade, levando a estrangulamentos financeiros.
Crises políticas e mudanças nas políticas agrícolas também influenciam, criando incertezas que podem agravar o endividamento do setor. Assim, em momentos de retração econômica ou instabilidade fiscal, o número de pedidos de recuperação judicial tende a crescer, refletindo os desafios estruturais e conjunturais que afetam a sustentabilidade do agronegócio no Brasil.
A juíza Paula Husaluk, da 1ª Vara Cível de Paracatu (MG), região noroeste do estado de Minas Gerais, deferiu o pedido de um grupo do agro mineiro que acumula mais de R$ 895 milhões em dívidas. A magistrada concedeu ainda o período de blindagem de 180 dias e suspendeu a cobrança de dívidas para poder dar “fôlego” às empresas. O grupo é formado pelas empresas Vitória Agronegócios Ltda, Cordeiro Locação e Transportes Ltda e AG&F Agropecuária, além de seis pessoas físicas. Eles são representados pela Frange Advogados.
Entre os motivos que levaram à crise estão as “dificuldades climáticas, oscilações econômicas, redução drástica de liquidez e incêndio”. E, por causa disso, é necessária a recuperação judicial para a “superação das dificuldades, preservação dos empregos, geração de renda e contribuição para o desenvolvimento econômico”. Foi pedido à Justiça a antecipação do período de blindagem, assim como a declaração da essencialidade dos bens, a comunicação aos órgãos de proteção ao crédito sobre a recuperação judicial e a retirada dos apontamentos existentes, além da dispensa da apresentação da certidão de débitos fiscais.
“Para efeito prático, a viabilização da superação da situação de crise enfrentada inicia-se pela preservação da atividade empresarial, possibilitando a manutenção do quadro de empregados, sendo certo de que somente com a conservação da fonte produtora, que se dá com a permanência dos trabalhadores, é que se alcançará a produção e o giro da operação e, por decorrência lógica, a percepção de receita que servirá para a quitação dos créditos dos credores”, diz trecho da decisão. E ainda que a recuperação judicial no agronegócio tem sido recorrente porque “além dos fatores negativos internos – capital de giro – e dos externos – crise no mercado – que afetam qualquer atividade empresária, os produtores rurais ainda estão sujeitos às intempéries climáticas, infestação de pragas e outros riscos próprios da atividade rural, o que legitima as alterações da Lei de Recuperação Judicial, Extrajudicial e Falência”.
Agricultura na região Noroeste de Minas A agricultura é fundamental para a região Noroeste de Minas Gerais, sendo um dos pilares da economia local e uma importante fonte de emprego e renda para a população. A região, conhecida por seu clima favorável e solos férteis, destaca-se no cultivo de grãos como soja, milho e feijão, além da produção de cana-de-açúcar e café. Dados mais recentes (como os do IBGE e da Emater-MG) indicam que a região contribui significativamente para a produção estadual, especialmente de soja, com safras que ultrapassam 1 milhão de toneladas anuais, e milho, com produção em torno de 800 mil toneladas. A cana-de-açúcar também tem grande relevância, com milhões de toneladas destinadas à produção de açúcar e etanol.
Além disso, o Noroeste mineiro se destaca na pecuária, com rebanhos bovinos expressivos, tanto para corte quanto para leite. Outro aspecto relevante é o impacto social da agricultura na região, que ajuda a fixar as populações no campo, reduzindo o êxodo rural e fortalecendo as comunidades locais. A atividade agrícola também impulsiona o desenvolvimento de infraestrutura, como estradas e armazéns, além de fomentar o comércio e os serviços relacionados. Essas atividades não apenas movimentam o setor agroindustrial, mas também contribuem significativamente para o abastecimento interno e as exportações do estado. Embora os números variem conforme a safra e as condições climáticas, a região consolida-se como um importante polo agropecuário, gerando empregos, renda e divisas para o estado. Para dados mais precisos e atualizados, recomenda-se consultar relatórios da Conab, Emater-MG ou IBGE.
Fonte: Comprerural