Durante quase um século de história, a Ianni Agropecuária — referência na produção de suínos no interior paulista — enfrentou de forma consistente os desafios típicos da atividade: custos elevados, mudanças no perfil do consumidor e adoção de novas tecnologias. Mas, nos últimos anos, um obstáculo crescente exigiu uma abordagem ainda mais estratégica: a alta rotatividade e a dificuldade de manter colaboradores engajados por mais tempo nas suas unidades de produção.
Com 3.500 matrizes e mais de 200 famílias empregadas entre as unidades de Itu e Porto Feliz (SP), a empresa é liderada pelas irmãs Alice, Andrea e Angela Ianni, que têm buscado soluções cada vez mais sustentáveis para garantir o desempenho técnico sem abrir mão do bem-estar das equipes. Localizada em uma região de alta competitividade por mão de obra — devido à forte presença industrial —, a Ianni Agropecuária se destacou ao fazer um movimento raro: encarar de frente o desafio da rotatividade e promover uma transformação na cultura de liderança dentro das suas granjas.
Foi essa visão estratégica que levou as diretoras a convidarem o médico veterinário Leandro Trindade para conduzir esse processo. Com mais de 20 anos de experiência no setor, Trindade é técnico agrícola, pós-graduado em Psicologia do Trabalho e Gestão Estratégica de Pessoas, e criador da metodologia BPL (Boas Práticas de Liderança), aplicada em dezenas de granjas pelo Brasil, com o propósito de reduzir a rotatividade por meio da profissionalização das relações humanas dentro das granjas.
“Em muitos dos diagnósticos que realizo em granjas, costumo dizer que o maior custo de uma granja nem sempre está apenas na nutrição ou na implantação de novas tecnologias, mas no silêncio das equipes que não participam ativamente ou por não se sentirem valorizadas”, afirma o especialista.
Quando a crise de mão de obra não é técnica — é cultural
A metodologia BPL, atualmente em execução na Ianni Agropecuária, parte de um princípio simples, porém muitas vezes negligenciado: funcionários não permanecem apenas por salário ou estrutura física. Eles permanecem onde se sentem valorizados, reconhecidos e incluídos. A estratégia é baseada em quatro dimensões do engajamento: Relação do colaborador com a empresa, com os seus líderes diretos, com os colegas e com a tarefa ou função que executam.
Segundo Trindade, embora muitas granjas estejam investindo em salários mais competitivos treinamentos técnicos e tecnologia, o turnover continua crescente. “O que temos hoje é uma crise silenciosa de pertencimento. O trabalho no campo deixou de ser atrativo não simplesmente porque a geração atual é menos interessada, mas porque falta propósito, reconhecimento e escuta ativa no dia a dia. A pandemia apenas acelerou essa transformação”, explica.
Gestão de pessoas: o elo perdido da produtividade
A rotatividade se transformou em um problema estrutural. Seus custos vão além da reposição de mão de obra: afetam a qualidade do processo, aumentam o retrabalho, geram desgaste entre setores e, principalmente, enfraquecem o capital humano que sustenta os resultados da granja.
Segundo Trindade, a maioria das empresas ainda responde a esse problema com soluções técnicas, como treinamentos operacionais ou bonificações, sem considerar que a causa real pode estar em modelos de liderança engessados e falhas na comunicação interna.
“Ainda é comum ver decisões tomadas com base em achismos, sem diagnóstico ou escuta. O resultado é um ciclo vicioso de contratação e perda de talentos, que mina a estabilidade da equipe e compromete o desempenho a médio e longo prazo.”
Na Ianni, esse padrão começou a mudar com ações práticas de fortalecimento da cultura organizacional, melhoria da comunicação entre os departamentos e a construção de um modelo de gestão mais empático e estruturado.
Um novo modelo de liderança para a suinocultura brasileira
O trabalho realizado na Ianni Agropecuária é um exemplo de como é possível, mesmo em contextos desafiadores, implementar mudanças sustentáveis e promover um ambiente de trabalho mais colaborativo, produtivo e humano. Sem promessas milagrosas, mas com método, escuta ativa e compromisso com a melhoria contínua, a empresa vem construindo uma nova forma de liderar — e os primeiros resultados já são visíveis no clima interno e na integração entre os times.
Esse movimento não é isolado, nem exclusivo. Ele representa uma mudança mais ampla no setor: a suinocultura moderna começa a perceber que a produtividade também nasce do diálogo. Que o engajamento das equipes é um ativo estratégico, e que enfrentar os desafios humanos com seriedade e profissionalismo pode ser o diferencial entre apenas sobreviver ou evoluir com consistência.
Leandro Trindade já percorreu centenas de granjas brasileiras e compartilha suas experiências em palestras, treinamentos, mentorias e projetos de transformação de cultura. A Metodologia BPL, desenvolvida com base em mais de duas décadas de pesquisas e de atuação técnica e humana na suinocultura, tem sido aplicada por empresas que desejam desenvolver equipes mais engajadas, estáveis e preparadas para os novos desafios do setor.
Fonte: Rodrigo Capella