Ao longo da exploração agrícola, os solos foram empobrecendo e isso levou a necessidade de uma ampla reflexão sobre a questão da preservação das terras aráveis e da regeneração dos solos degradados. Em decorrência disso, surgiu uma nova abordagem sistêmica, a agricultura de conservação do solo, que dá ênfase ao solo e à matéria orgânica.
Na agricultura, o principal objetivo do solo é garantir nutrição ideal para as plantações. Um solo bem estruturado permite bom enraizamento das culturas presentes, boa circulação de água, ar e nutrientes. Lembrando que as funções ecológicas essenciais à vida terrestre fornecidas pelo solo são numerosas, dentre elas a manutenção do ciclo da água e dos nutrientes, proteção da água subterrânea, produção de alimentos e conservação das reservas minerais.
Por intermédio dessas funções é permitido ao solo fornecer serviços ecossistêmicos. Dentre eles, podemos citar a regulação do clima global e local (armazenamento de carbono, reflexão de calor, entre outros), filtragem de água, habitat para biodversidade e luta contra a erosão. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a Agricultura de Conservação do Solo é baseada em três fundamentos interdependentes: mínima perturbação mecânica do solo, cobertura de solo permanente e diversificação de espécies cultivadas. É de fundamental necessidade combinar esses três pilares para otimizar o sucesso do sistema.
Embora a aração, que revira e mistura o solo profundamente, tenha sido o símbolo da agricultura por milhares de anos, a agricultura atual tem se concentrado em limitar o trabalho do solo ao mínimo possível. Na ausência de aração, os agricultores podem realizar a semeadura direta, uma técnica que consiste em semear diretamente sobre os restos da cultura anterior. Esse é um dos pilares do chamado Sistema de Plantio Direto.
A rotação de culturas, como cereais, leguminosas, entre outras, na mesma área, deve ser considerada ao longo de vários anos. Com a redução da mobilização do solo e, em especial, a eliminação da aração, o controle de plantas daninhas pode se tornar mais complexo. É por isso que é essencial estender a rotação de culturas para evitar a especialização da flora concorrente. Diversificar as culturas semeadas, alternando espécies, também ajuda a quebrar o ciclo de desenvolvimento dessas plantas daninhas, reduzindo a necessidade de controle químico. A rotação de culturas de diferentes famílias ajuda a quebrar o ciclo de pragas e patógenos.
Essa prática também é benéfica para o funcionamento do solo, principalmente quando envolve a mistura de espécies em cultivo ou cobertura: mais biomassa produzida, mais matéria orgânica devolvida ao solo, melhor estrutura graças aos perfis de raízes variados e, portanto, aumento da fertilidade do solo.
Outro elemento deve ser acrescentado na ajuda para a conservação do solo. O uso de fertilizante favorece a maior produção de massa vegetal, pois permite formar uma maior quantidade de resíduo, protegendo o solo com maior eficiência contra o impacto das gotas de chuva e, consequentemente, do seu processo erosivo.
É evidente a importância do fertilizante no recobrimento vegetal do solo pela maior produção de palha. Com isso, haverá a redução do processo erosivo do solo e, consequentemente, a conservação das suas propriedades químicas, físicas e biológicas.
Essa preservação ajuda o solo a manter seu potencial produtivo, mas acima de tudo, contribui para reduzir o assoreamento de rios e lagos e a conservação da água.
*Valter Casarin, coordenador geral e científico da Nutrientes Para a Vida é graduado em Agronomia pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP, Jaboticabal, em 1986 e em Engenharia Florestal pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”/USP, Piracicaba, em 1994. Concluiu o mestrado em Solos e Nutrição de Plantas, em 1994, na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Recebeu o título de Doutor em Ciência do Solo pela École Supérieure Agronomique de Montpellier, França, em 1999. Atualmente é professor do Programa SolloAgro, ESALQ/USP e Sócio-Diretor da Fertilità Consultoria Agronômica.
Fonte: Gustavo Sousa