Dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estimam que 33% dos solos do mundo estão degradados, impactando diretamente entre 20 e 40% a produção de grãos no planeta. No Brasil, a previsão é que a safra deste ano cresça consideravelmente em relação à última, que registrou 186,1 milhões de toneladas (IBGE). Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a expectativa é atingir 215,1 milhões de toneladas de grãos em 2017. João Carlos Moraes Sá, pesquisador e professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), ressalta, no entanto, que a adoção de manejos construídos sobre os pilares do Sistema de Plantio Direto ainda poderia incrementar em 20% o desempenho da agricultura.

Efeito Estufa
Outro desdobramento importante do tema é a vocação natural do SPD para minimizar a ação dos gases do efeito estufa, grande vilão do aquecimento global no mundo todo. De acordo com Sá, o Sistema Plantio Direto na América do Sul poderia contribuir na mitigação dos GEE, com cerca de 24 % (equivalente a 0,26 bilhões de toneladas/ano) das emissões globais provocadas anualmente pelo uso da terra.
“O SPD contribui para a atenuação das emissões de gases de efeito estufa (GEE) podendo mitigar entre 0,5 a 2,18 ton de C /ha/ano (Diekow, et al., 2005; Bayer, et al., 2006; Cerri et al., 2007; Sá et al., 2006; Boddey et al., 2010; Sá et al., 2015; Corbeels et. al., 2016). O cenário atual das emissões globais de GEE devido a queima de combustíveis fósseis, produção de cimento e atividades humanas situa-se em 10,1 bilhões de toneladas de C /ano e as mudanças no uso da terra (incluindo atividade agrícola e desmatamento) é cerca de 1,1 bilhão de toneladas (Le Quére et al., 2014).”, explica Sá.
Em contrapartida, Carlos Eduardo Cerri, professor e pesquisador da Esalq /USP, considera bastante interessante a aplicação dos conhecimentos em áreas cultivadas hoje sob plantio direto no país. Segundo ele, nos últimos dez anos, a taxa de conversão de áreas de preparo convencional para áreas cultivadas em SPD é da ordem de um milhão de hectares por ano.
“Apesar dos esforços das agências de fomento estaduais e federal ainda pode-se dizer que os investimentos nessa linha de pesquisa são bem aquém da necessidade. O Brasil possui uma dimensão muito extensa; a área de SPD já atinge quase 30 milhões de hectares, o que requer uma complexidade de entendimento em função das diferentes condições edafoclimáticas, ou seja, solos variados em regiões diversas com climas diferentes e uma rotação de culturas bastante complexa, portanto investimentos mais elevados são necessários”, afirma.
Cerri encerra dizendo que o SPD é um dos processos mais eficientes para construção e preservação da matéria orgânica do solo, porque privilegia entradas de material orgânico contínuas no solo e proporciona pequenas saídas desse material para atmosfera. Ele aponta também outras técnicas de manejo, que adotam o mesmo princípio, como a Integração Lavoura Pecuária e os sistemas agroflorestais.
“Há uma tendência dessas práticas de manejo acumularem material orgânico no solo, diferente de práticas onde a entrada é muito pequena, por exemplo, as culturas que fornecem pouco material vegetal ou sistemas que fazem com que a saída seja muito grande, com excessivas arações e gradagens. Ou mesmo as monoculturas, em que o tipo de material vegetal que entra é sempre o mesmo, fazendo que, com o tempo, haja uma redução não só na quantidade como na diversidade de organismos, que são responsáveis pela alteração e estabilização da matéria orgânica do solo.”, conclui.
