No processo de fabricação do açúcar cristalizado da cana se obtém um resíduo líquido popularmente chamado de melaço. Ele é uma mistura de sacarose e sais minerais, rico em potássio, cálcio e fósforo. Na culinária, é muito usado no consumo de carnes e queijos. E um bom uso dele está também na produção da fruticultura.
O engenheiro agrônomo Pedro Ximenes, que atua como consultor em Petrolina (PE), no Vale do São Francisco, grande produtora de manga e uva, explica que o melaço pode ser usado de duas formas na fruticultura: diretamente no solo, para favorecer a adubação, ou junto com produtos fitossanitários que em sua bula recomendam o uso do açúcar para atrair insetos.
“O uso direto no solo se dá por meio do que chamamos de fertirrigação. Para cada 200 litros de água, colocamos 5 litros do melaço. O fertilizante natural multiplica os microorganismos do solo, aumenta a vida microbiana, as plantas absorvem mais os nutriente e melhora a coloração das folhas e dos frutos”, ele disse.
Geralmente são aplicados 25 litros por hectare durante uma safra. No Vale do São Francisco, onde é usado há pelo menos cinco anos, o melaço da cana permitiu aumento da produtividade em 12 a 15%, principalmente nos pomares de uvas, e com economia de 20% no custo da produção em relação ao uso de outros produtos.
O melaço, observa Ximenes, é uma boa alternativa ao açúcar no combate às pragas por meio do uso de produtos fitossanitários: “O adocicado do melaço atrai o inseto, favorecendo o controle. O inseto bebe o suco doce e ingere o produto. A dosagem recomendada é a de 5 litros por hectare, fazendo 5 aplicações por safra”.
O fruticultor Estevão Alves Ferraz, 47 anos, começou a usar o melaço em janeiro deste ano em suas plantações de manga, goiaba, acerola e uva. Tem gostado tanto dos resultados que já espalhou a novidade para outros produtores e até já dá assistência a pelo menos 40 produtores, orientando como faz, segundo informou.
“Os melhores resultados têm sido com a produção de uva. Melhorou muito no desenvolvimento da florada, pegou mais rápido e com mais volume”, comentou Ferraz.
Na região do Vale do São Francisco, o único fornecedor do melaço em larga escala é a usina Agrovale, cuja unidade fabril (ela produz açúcar e etanol) fica em Juazeiro, norte da Bahia. A empresa tem produção diária de 214 mil litros de melaço.
A maior parte do produto concentrado é destinada à produção de açúcar e etanol, e ainda em pequena escala, usado como alimentação animal associado ao bagaço hidrolisado. Da cana-de-açúcar são aproveitados ainda o açúcar, bagaço, torta de filtro, vinhaça, óleo fúsel, álcool bruto e levedura seca.
De acordo com o diretor vice-presidente da Agrovale, Denisson Flores, a utilização do melaço na produção de frutas agrega valor às duas atividades e expande ainda mais os horizontes da fruticultura.
“Os produtores só tem a ganhar com o aumento da produtividade e a qualidade das plantas e dos frutos, ampliando ainda mais o bom conceito que tem as frutas do Vale do São Francisco no Brasil e no mundo”, enfatizou.
Denisson Flores destacou ainda que um percentual significativo dos subprodutos da cana é destinado ao projeto socioambiental da empresa através de doações a diversos segmentos sociais da região.
“Em 2017 doamos mais de 600 toneladas de bagaço hidrolisado para associações de pequenos produtores rurais de Juazeiro e no ano passado também fizemos a doação de 80 mil toneladas de palhada para 15 mil pequenos produtores rurais de 10 municípios da região”, disse.
Fonte: Canal Rural Por Mário Bittencourt