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Nitrato de cálcio para ruminantes: impactos sobre o consumo de matéria seca e a produção de leite

A produção de ruminantes vem se modificando por meio do estudo de estratégias alimentares que eventualmente tem por intuito interferir em processos que acontecem em nível ruminal. Estas técnicas podem ser diretamente relacionadas aos alimentos, às formas de processamento das dietas ou especificamente aos microrganismos ruminais. Desta forma, pode-se otimizar o aproveitamento dos alimentos ingeridos, melhorar a absorção dos nutrientes da dieta, impactar na produção de leite e consequentemente aumentar a produtividade animal.

Dentre as inúmeras estratégias, muitas estão focadas no uso de aditivos alimentares que forneçam, de certa forma, propriedades específicas a determinados grupos de microrganismos ruminais. Por exemplo, por meio da seleção de grupos de bactérias, pode-se interferir positivamente nas taxas de degradação dos alimentos, ou mesmo impactar em ciclos de geração e perdas de energia que acontecem naturalmente dentro do ambiente ruminal, como é o caso da produção de metano entérico.

Neste contexto, o uso de nitrato (NO3), um composto químico que pode ser encontrado naturalmente na água e nos alimentos, tem sido foco de pesquisas na nutrição de ruminantes, pois, além de ser fonte de nitrogênio não proteico (NNP), pode reduzir de forma significativa a produção de metano (van Zijderveld et al., 2010; Hristov et al., 2013). Assim, o nitrato tem sido considerado um substituto potencial de outras fontes de NNP, como a ureia, e provavelmente fonte de proteína verdadeira, visto que, de acordo com Silveira et al. (2019), o nitrato de cálcio encapsulado pode ser utilizado em até 10 g/kg na base da matéria seca (MS) como substituto do farelo de soja em dietas para cabritos em crescimento, sem alterar o consumo de MS e a digestibilidade dos nutrientes da dieta.

Após a ingestão, o mecanismo de ação do nitrato no rúmen acontece através das equações NO3 + 2H+ à H2O + NO2 e NO2 + 6H+ à H2O + NH3, nas quais o nitrato é primeiro reduzido a nitrito (NO2) e posteriormente a amônia (NH3) (Leng 2008). De acordo com Lee e Beauchemin (2014), o processo de redução do nitrato utiliza o hidrogênio livre no rúmen que normalmente é utilizado pelas bactérias metanogênicas para a produção de metano. Desta forma, essa modulação ruminal pode garantir um maior aporte energético ao animal, uma vez que há uma diminuição de perdas de energia pela produção de metano, pois, teoricamente, a redução do nitrato a amônia é mais favorável quando comparada a redução do dióxido de carbono a metano.

Um fato que deve ser levado em consideração sobre a utilização de nitratos são os casos de intoxicação em ruminantes que ocorrem geralmente pela ingestão de pastagens super adubadas ou pela forma incorreta de inclusão de nitrato na dieta. Portanto, sob certas circunstâncias, altas quantidades de nitratos podem estar acumuladas em plantas que, ao serem consumidas pelos animais, geram casos de intoxicação. De acordo com Leng (2008), os fatores que afetam a concentração de nitrato nas plantas incluem a maturidade, as condições do solo e as doses de aplicação de fertilizantes. Assim, em condições normais, o nitrato é geralmente insignificante e não deve ser uma preocupação para os ruminantes.

O nível de meta-hemoglobina no sangue em relação a porcentagem total de hemoglobina é um ótimo indicador para avaliar se há e qual é o grau de intoxicação dos animais. De acordo com Bruning-Fann e Kaneene (1993) são considerados casos de intoxicação somente quando os níveis de meta-hemoglobina estão entre 30% a 40%. Neste sentido, é indispensável uma adaptação prévia dos animais a dietas que possuam nitrato em sua composição, pois, assim como é feito comumente com a ureia, o nitrato precisa ser introduzido na alimentação de forma gradativa para que os microrganismos possam se adaptar ao novo ambiente ruminal.

Quanto a produção e a composição de leite, alguns pesquisadores observaram que a inclusão de nitrato na dieta de vacas em lactação não alterou os parâmetros produtivos dos animais (van Zijderveld et al., 2011; Klop et al. 2016; Olijhoek et al., 2016). Além disso, de acordo com Olijhoek et al. (2016) o nitrato de cálcio não alterou a ingestão de MS ao ser utilizado em até 27,9 g/kg na MS da dieta total de vacas em lactação. Por outro lado, pesquisadores como Hulshof et al. (2012) e Klop et al. (2016) observaram uma redução significativa do consumo de MS em suas pesquisas. Diante disso, é nítido que ainda há muitas divergências quanto aos parâmetros de ingestão de MS, assim como efeitos sobre a digestibilidade dos nutrientes da dieta.

Essas diferenças na ingestão são geralmente relacionadas a fatores como o nível de nitrato utilizado e o método do fornecimento. Por exemplo, misturar o nitrato na preparação do concentrado, fornecer separadamente, oferecer dietas ad libitum (à vontade) ou com restrição alimentar. Ademais, a redução no consumo de MS pode ser referente apenas ao fato do nitrato possuir um sabor amargo, o que pode interferir negativamente na palatabilidade das dietas (Lee et al., 2014).

Diante do exposto, recentemente foram desenvolvidos dois experimentos pelo grupo de estudos NUPEL (Núcleo de pesquisa e estudo da cadeia produtiva do leite) da Universidade Estadual de Maringá e os dados preliminares foram apresentados em 2019 no Annual Meeting of the American Dairy Science Association em Cincinnati, Ohio, Estados Unidos. No primeiro experimento, objetivou-se avaliar o fornecimento de nitrato de cálcio na dieta de cabras da raça Saanen em lactação (98,5±13,1 dias em lactação, 53,5±3,3 kg de peso vivo)  e os dados parciais mostraram que não houve efeito no consumo de MS dos animais,  na produção e na composição do leite quando foi utilizado em até 20 g/kg na MS da dieta total (Almeida et al., 2019).

Posteriormente, um segundo experimento foi realizado com vacas da raça Holandês em lactação (106,0±14,8 dias em lactação, 550,7±21,8 kg de peso vivo) e os resultados parciais mostraram que o nitrato de cálcio reduziu o consumo de MS e ocasionou uma redução na quantidade de proteína verdadeira do leite quando foi adicionada a quantidade de 30 g/kg na MS da dieta total. O mesmo efeito não foi observado no tratamento que forneceu 15 g/kg na MS, o qual foi similar ao grupo controle que utilizou ureia como fonte de NNP, e foi, portanto, a quantidade recomendada de utilização com bases nos resultados deste estudo (Almeida et al., 2019).

Quanto ao teor de meta-hemoglobina, em ambos os experimentos não foram evidenciadas diferenças entre os tratamentos e o grupo controle para as cabras e vacas em lactação, com médias de 0,83% e 2,79%, respectivamente. Percebe-se que estes valores estão bem distantes da margem considerada insegura para a saúde dos animais (30%-40%), o que indica que os níveis utilizados no estudo foram considerados seguros e sem riscos de intoxicação.

Considerações finais

O nitrato de cálcio é uma importante fonte de nitrogênio não proteico que pode ser utilizado na dieta de cabras e vacas leiteiras. Entretanto, é de extrema importância que seja realizada uma adaptação prévia e gradativa, assim como é feito com o uso da ureia. Além disso, o balanceamento das dietas deve ser feito corretamente e por pessoas capacitadas, uma vez que o uso de níveis adequados de nitrato na MS da dieta total irá garantir saúde aos animais, assim como um bom aproveitamento dos nutrientes da dieta.

Fonte: MilkPoint

Crédito: DP Pixabay

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