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Abortamento de vagens de soja

Abortamento de vagens de soja acarretou perdas de até 20% durante a safra 20/21 em relação às colheitas dos anos anteriores

Os resultados de pesquisa apontam perdas no sequeiro e áreas irrigadas

Resultados de pesquisas durante a safra 2020/2021, realizadas nas lavouras da região médio norte de Mato Grosso, revelam que o abortamento de vagens e sementes em soja resultaram em perdas de 4 a 8% no sequeiro, e nas áreas irrigadas, de 4 a 20%, em relação a mesma produtividade obtida nestas áreas na safra 2019/2020. Esse dano tem relação, principalmente, com o efeito do ambiente no desenvolvimento e na fisiologia da cultura da soja, podendo ocorrer também na fase final de enchimento de grãos, devido ao desbalanceamento na relação fonte/dreno.

As informações foram disponibilizadas por produtores através de amostras sintomáticas e analisadas pela Clínica de Diagnose de Doenças de Plantas da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Campus de Sinop.

Esses dados foram apresentados pela pesquisadora em Fitopatologia, doutora Solange Maria Bonaldo, na palestra sobre os impactos do clima na fisiologia e fitossanidade da soja na safra 20/21, realizada na última terça-feira (1º), na programação do Circuito Master Meeting Soja, evento realizado pela Proteplan e reúne os maiores especialistas do Brasil para debates sobre temáticas importantes da agricultura. De acordo com a pesquisadora, a umidade e as temperaturas são fatores que contribuem para o crescimento de fungos nas vagens e sementes abortadas. Com elevada umidade e temperaturas favoráveis ao desenvolvimento de fitopatógenos – que infectam após os danos nos tecidos -, foi possível observar o crescimento desses fungos.

“Nas amostras que analisamos observamos a presença de fungos como Colletotrichum spp., Macrophomina sp., Phoma sp. e Phomopsis sp., nas vagens e sementes. Porém, com maior frequência nas amostras foi observado a presença de Colletotrichum spp. e Phoma sp., fungos considerados oportunistas, sapróbios ou endófitos da própria planta”, revela.

Alana Tomen, pesquisadora da Proteplan, explica que o distúrbio nas vagens, com consequente apodrecimento, é resultado de um conjunto de fatores edafoclimáticos. “Nas duas últimas safras tivemos temperaturas acima da média nos meses de outubro e novembro. Além disso, houve meses com restrição hídrica e com excesso de radiação solar. Em situações extremas como essas, não há como esperar que as plantas se comportem exatamente da maneira como estávamos acostumados”, explica.

A Clínica de Diagnose de Doenças de Plantas da UFMT, recebeu na safra 2020/2021, um total de 40 amostras apresentando os sintomas de apodrecimento nas vagens, provenientes de áreas de irrigação ou sequeiro, sendo que nas áreas de sequeiro, ocorreu estresse hídrico na implantação e estabelecimento da cultura. 

Outras análises 

Segundo a pesquisadora, além das vagens e grãos, analisou-se o sistema radicular destas amostras e observou-se comprimento médio de 11,78 cm, com mínimo de 7 cm e máximo de 22 cm, sendo que 62,50% das amostras das raízes de plantas com apodrecimento de vagens e grãos apresentaram crescimento de Macrophomina sp., fungo naturalmente encontrado em solos cultivados e amplamente distribuído. Também se observou a presença de Rhizoctonia sp., Fusarium sp. e nematoides no sistema radicular.

Fitopatógenos no sistema radicular e/ou colo das plantas comprometem os processos fisiológicos de absorção e transporte de água e nutrientes, o que, conforme relatos da pesquisadora, provavelmente acarretou o desbalanço na relação fonte/dreno.

Sobre a infecção por Macrophomina sp., ela explica que a incidência ocorre em função da predisposição da planta ao patógeno, e pode ser favorecida por solos compactados, solos sob elevada temperatura e déficit hídrico. “Além disto, a compactação favorece a ocorrência de doenças causadas por patógenos presentes no solo (afetando o sistema radicular) e o baixo potencial hídrico reduz a atividade de microrganismos benéficos (antagonistas)”.  

Buscando solução – Diante da abertura precoce das vagens de soja, Solange recomenda ao produtor buscar o diagnóstico correto do que está causando o problema em sua lavoura. “Se a causa for abiótica (estresse hídrico, por exemplo), os produtores devem adotar estratégias de manejo do solo que evitem compactação, adoção de rotação de culturas, uso de condicionadores de solo e microrganismos benéficos. A semeadura deve ser realizada com teores adequados de umidade no solo, manejo adequado da irrigação em pivô, bem como determinar o espaçamento entre linhas e número de plantas/m mais adequado para o nível de fertilidade do solo, uma vez que a redução de plantas na linha permite maior engalhamento das mesmas, contribuindo para preservação do terço inferior das plantas e exposição das folhas a luz”, explica Bonaldo.

Diferentes locais – Foi possível observar os mesmos sintomas em amostras de diferentes munícipios do médio norte de Mato Grosso, como Sorriso, Nova Mutum, Tabaporã, Nova Ubiratã, Feliz Natal e Lucas do Rio Verde. Além desses municípios mato-grossenses, houve também amostras recebidas do estado de Rondônia.

Fonte: Juiane Caju

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