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Com técnica inovadora, vinícolas do Sudeste do Brasil adaptam o ciclo das videiras e produzem vinhos surpreendentes

Sob influência do clima tropical brasileiro, as viticulturas produzem os chamados “vinhos de inverno”, ampliando o leque de oportunidades de exportação para o mercado internacional

Vinhos produzidos no meio do cerrado no interior do Brasil na região Centro-Oeste, e no Sudeste: parece algo impensável, mas desde 2001, uma técnica desenvolvida nacionalmente tem permitido a produção. Tradicionalmente, no ciclo produtivo da videira, a colheita é realizada durante o verão e no inverno as uvas estão em dormência. Com a nova técnica, chamada “dupla poda”, os chamados “vinhos de inverno” passam por um processo diferente: o ciclo natural da planta é modificado e a colheita acontece durante o inverno. O método permite o cultivo de uvas de alta qualidade em regiões que contam com verões chuvosos – condição adversa para a viticultura.

A diversificação do terroir, expandindo a tradicional Serra Gaúcha, tem contribuído para o Brasil se consolidar cada vez mais como produtor de vinhos. De acordo com dados do projeto setorial Wines of Brazil, executado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e a União Brasileira de Vitivinicultura (UVIBRA), já são mais de 80 mil hectares de áreas plantadas, mais de 1,1 mil vinícolas e mais de 200 mil pessoas envolvidas no setor.

Para a gestora do Projeto e analista da gerência de Agronegócio da ApexBrasil, Rafaela Albuquerque, “os vinhos de inverno são uma grande oportunidade para o comércio exterior conhecer o potencial inovador das vinícolas nacionais. A utilização desta técnica inédita no mundo atribui ao Brasil um diferencial na produção, despertando curiosidades e trazendo mais reconhecimento ao setor. Temos ótimos exemplos de produtoras de vinhos finos participantes do Projeto que já conquistaram diversas premiações importantes, como o selo Gold da Decanter World Wine Awards, um dos maiores e mais renomados concursos internacionais de vinhos”.

Segundo o Diretor de Ensino da Associação Brasileira de Sommeliers do Rio Grande do Sul (ABS-RS) e professor de enogastronomia na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Maurício Roloff, a “inventividade” é a característica típica dos vinhos brasileiros que levaram à utilização do método. “Por meio da pesquisa, se enxergou uma oportunidade de inovar. O centro do Brasil recebeu as primeiras tentativas de vitivinicultura no Século 16, mas elas não foram muito adiante porque o terroir não foi considerado adequado. Quase 500 anos depois estamos domando esse terroir por meio da técnica de dupla poda e extraindo dessa região rótulos de altíssima qualidade”, conta.

O sommelier explica que a colheita realizada no inverno pode apresentar alguns benefícios, como melhor exposição ao sol, menor incidência de chuva, maior amplitude térmica e um período mais longo de maturação. Entretanto, essa técnica não pode ser utilizada em todas as regiões, tendo que se levar em conta as características geográficas de cada local. Atualmente, os vinhos de inverno são produzidos no Sudeste, Centro-Oeste e algumas regiões Nordeste, sendo São Paulo e Minas Gerais os dois maiores produtores.

Apesar de ser uma técnica nova, Roloff é otimista com o seu potencial: “a tendência é de expansão da área plantada e o surgimento de novos projetos, vinícolas em cidades antes conhecidas apenas pelo cultivo de café, cana e outras culturas. Isso também ajuda a disseminar a cultura do vinho por novos cantos do país”.

Vinícolas paulistas

A Vinícola Góes, situada em São Paulo desde as primeiras décadas do século passado, é uma das principais a utilizar a técnica dos vinhos de inverno no Brasil. Depois de apostar no cultivo de uvas finas em território paulista no início dos anos 2000 com as variedades Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Lorena (uma variedade híbrida desenvolvida pela Embrapa), a dupla poda começou a ser utilizada pela vinícola em seus vinhedos em 2011.

Em 2014, o vinho de variedade Cabernet Franc foi o primeiro vinho 100% paulista a ser escolhido na Avaliação Nacional de Vinhos como um dos mais representativos da safra no País. Ele viria ao mercado dois anos depois, com a marca Góes Tempos Philosophia Cabernet Franc. A partir da safra de 2016, a Vinícola abre seu leque de variedades de “uvas de inverno” e de rótulos inovadores. Desde então, os novos produtos vêm materializando em definitivo o reconhecimento da Vinícola Góes como produtora de vinhos finos de qualidade, tendo hoje em seu portfólio vinhos de inverno elaborados a partir das variedades Cabernet Franc, Sauvignon Blanc, Malbec, Verdelho, Touriga Nacional, Tinta Roriz e Petiti Verdot.

O Diretor Comercial da vinícola, Luciano Lopreto, defende que o desafio será conseguir internacionalmente o reconhecimento da qualidade que esta técnica inovadora tem proporcionado. E isso, uma vez alcançado, passará a ser um diferencial de competitividade e inovação nos mercados globais. “Desde 2017, o projeto Wines of Brazil tem nos ajudado e muito a trilhar uma estratégia de exportação. Mesmo com outras prioridades internas relevantes, o desenvolvimento de mercados internacionais é, sem dúvida, um dos nossos grandes focos dos próximos anos”, afirma Lopreto.

Apesar de iniciante, a vinícola já possui relações comerciais com a Colômbia, Paraguai, Portugal, Alemanha e Japão, vendendo principalmente sucos e apresentando amostras de seus vinhos. Após participarem de um ciclo do Programa de Qualificação para Exportação (PEIEX) entre 2020 e 2021, oferecido pela ApexBrasil, as portas para o mercado internacional se abriram de fato. Segundo o Diretor, as exportações dos sucos já chegaram a representar 15% de suas vendas nessa categoria, mas o objetivo agora é fazer o mundo conhecer o vinho de inverno brasileiro.

Fonte: Isabela Ottoni

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