Adriano Naspolini, Director of Research & Development na divisão de Agricultura da Hexagon
Pode até parecer um contrassenso: a tecnologia costuma vir contraposta à ideia de humanização. Quando pensamos em avanços tecnológicos logo nos vem à mente uma série de imagens distantes do que conhecemos como humano. Entretanto, a linha de raciocínio aqui vai por um outro caminho: humanizar como sinônimo não de adquirir uma condição humana (como uma pessoa de carne e osso), mas de tornar mais agradável, de amenizar, abrandar.
Na agricultura, a tecnologia tem desempenhado um papel significativo na humanização do trabalho, melhorando as condições de várias maneiras. Viemos de uma tradição de esforço braçal e não dá para dizer que foi há tanto tempo assim que as enxadas foram substituídas pelas máquinas. A introdução de equipamentos agrícolas avançados reduziu a carga de trabalho físico dos agricultores. Atividades que antes exigiam esforço manual intenso, como arar o solo, plantar, colher e transportar cargas pesadas, hoje são realizadas de forma mais eficiente por meio de tratores, colhedoras e outros equipamentos agrícolas. Os benefícios de uma agricultura mais moderna, no entanto, vão desde novas ferramentas no sentido literal da palavra, até o uso de soluções desenvolvidas para melhorar a inteligência das operações.
A tecnologia permitiu, por exemplo, a automação de várias tarefas agrícolas repetitivas. Sistemas de irrigação automatizados podem monitorar e ajustar automaticamente a quantidade de água fornecida às plantas, eliminando a necessidade de irrigação manual. Da mesma forma, robôs agrícolas podem realizar tarefas como colheita e controle de ervas daninhas, reduzindo a necessidade de trabalho manual repetitivo. Isso libera os agricultores para se concentrarem em atividades mais estratégicas e gratificantes.
Outras soluções também trouxeram avanços significativos em termos de segurança no trabalho. Sensores de segurança e dispositivos de proteção são utilizados em máquinas para evitar acidentes. Além disso, drones e satélites podem ser usados para mapear áreas perigosas, como terrenos acidentados ou propensos a deslizamentos de terra, permitindo que os agricultores evitem essas áreas de risco. A tecnologia também possibilita o monitoramento remoto de condições perigosas, como níveis de produtos químicos tóxicos, permitindo que os agricultores tomem precauções adequadas para garantir sua segurança.
Além disso, o desenvolvimento de tecnologia também ajudou a levar mais acesso à informação para as áreas rurais. O aumento da conectividade e o uso de dispositivos móveis trouxeram mais conhecimentos especializados para os agricultores. Eles podem acessar informações sobre boas práticas agrícolas, técnicas de cultivo, manutenção de equipamentos e soluções para problemas agrícolas com facilidade. Além disso, plataformas online permitem que os agricultores se conectem entre si, compartilhem experiências e aprendam uns com os outros. Isso fortalece a comunidade agrícola e proporciona suporte mútuo.
Dando um passo além, o uso de inteligência artificial (IA) já tem impactado diretamente nos resultados alcançados em termos de eficiência e produtividade. Baseada em dados registrados a partir de atividades dos equipamentos agrícolas, a IA é capaz de apoiar a elaboração de diagnósticos e executar ações com base na previsibilidade. A tecnologia trata esses dados e projeta cenários, antecipando situações indesejáveis e fazendo recomendações em tempo real, como o aviso do momento ideal para realização de uma manutenção no equipamento e a escolha de rotas mais eficientes para execução das operações.
Todas essas soluções, além de tornar o trabalho menos oneroso para o trabalhador, também ajudam a impulsionar a produtividade do país. Durante os últimos 25 anos, houve um notável avanço na produtividade agrícola brasileira em comparação com a média global. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a taxa de Produtividade Total dos Fatores (PTF) na agricultura brasileira cresceu em torno de 3,2% anualmente, superando a média mundial de 1,7%. Esse estudo também destacou que a produtividade agrícola no Brasil aumentou em incríveis 400% desde 1975, e ressaltou o papel fundamental desempenhado pela tecnologia nesse progresso.
Seja com resultados quantificáveis por meio de valores percentuais, seja com o aumento do bem-estar do trabalhador, a tecnologia tem se provado uma aliada indispensável para o futuro das operações agrícolas. Poupar trabalho braçal, automatizar operações e ajudar a tomar melhores decisões são apenas alguns dos benefícios das soluções que a cada dia são desenvolvidas por equipes dedicadas a ver o agronegócio brasileiro decolar cada vez mais alto.
Fonte: Ângela Prestes