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Deloitte/Suno | Agro-Crédito Privado

*Por Adilson Martins e Octaciano Neto

No Brasil, a transição da população predominantemente rural para uma população majoritariamente urbana a partir de 1970 trouxe consigo desafios, e um deles foi a falta de alimentos para suprir a demanda crescente. Diante desse cenário, surgiu a necessidade de desenvolver a agropecuária brasileira para acompanhar a urbanização e as principais mudanças nos hábitos alimentares da população. Nas últimas décadas, o aumento da renda per capita acelerou a demanda por proteínas.

Em recente publicação, José Gasques, do Ministério da Agricultura e Pecuária, consolidou a produtividade total de fatores da agropecuária brasileira entre 1975 e 2020 e comprovou que capital e insumos foram os principais responsáveis para a revolução na agropecuária brasileira. Com o passar dos anos, o mecanismo de financiamento com funding público não consegui atender adequadamente as necessidades e mecanismos privados de financiamento passaram a ganhar força. Em 1994, foram criadas as CPRs. Em 2004, LCA, CDCA e CRA. No último boletim de finanças privadas no agronegócio publicado pelo Ministério da Agricultura, registra que o estoque de CPRs no Brasil é de R$ 240 bilhões, de LCA de R$ R$ 390 bilhões, R$ 103 bilhões em CRA, R$ 30 bilhões em CDCA e R$ 13 bilhões em Fiagros. Os números comprovam o acerto em fortalecer os instrumentos e mecanismos de financiamento privado do agro.

Para avançarmos mais, faz-se necessário elevarmos a régua de governança das empresas, cooperativas e produtores rurais. Assim, a empresa é vista como mais confiável, transparente e responsável, e esses fatores fazem aumentar a confiança dos stakeholders, como investidores, fornecedores e credores no desempenho e na saúde financeira da organização. Empresas com essa estrutura sólida costumam ter mais facilidade de acessar o mercado de capitais, seja atraindo investidores e obtendo recursos financeiros com mais facilidade, seja por meio de investimentos em ações, emissão de títulos ou empréstimos junto a instituições financeiras.

Organizações com processos mais bem estruturados e melhor gestão se tornam mais competitivas na hora de conseguir crédito privado. Abrir capital, por exemplo, gera também a necessidade de melhorar a governança da organização, pois a empresa passa a ser regulada pelos órgãos competentes, o que visa proteger os investidores, e suas informações operacionais e financeiras ficam disponíveis para o público, o que torna a empresa transparente para os acionistas. Para se ter uma ideia, organizações com boas práticas, representadas pelo índice IGC (Índice de Governança Corporativa), são mais atraentes a investidores e garantem um maior retorno aos acionistas. 

Aprimorar a governança traz, ainda, outros benefícios, como melhoria de imagem e reputação, redução de custos de capital e gestão eficiente. O caminho para se conquistar um nível alto de maturidade é contínuo, requer o comprometimento da alta administração e dos acionistas, bem como a evolução constante das práticas adotadas, levando em consideração as melhores referências e padrões do mercado, e passa por uma série de fatores: fortalecimento de controles internos, auditoria, prestação de contas e transparência e políticas e códigos de condutas robustos.

As empresas do agronegócio devem sempre pensar em novas formas e estratégias de negócios para não depender de uma única forma de captar recurso e ter consciência de que é possível fortalecer ainda mais a governança. Isso inclui desde a preparação da organização para passar a ser auditada estabelecimento de estatutos claros, a ênfase no controle interno e na gestão de riscos e ter órgãos estruturados de supervisão. Essas são práticas essenciais para garantir a transparência e o cumprimento das regulamentações, além de estarem alinhadas aos aspectos sociais e ambientais exigidos pelo mercado atual. A conta é simples: se o dinheiro público é insuficiente para financiar a agricultura, é necessário recorrer ao dinheiro privado. E todas essas preparações estruturais pelas quais as empresas devem passar garantem juros mais baratos e prazo mais longo de financiamento. É fator determinante de competitividade.

Em um cenário de negócios desafiador e em constante transformação, é natural que as organizações busquem diferenciais e meios de impulsionar seus resultados. Nesse sentido, o Fiagro surge como uma oportunidade promissora para impulsionar o investimento no agronegócio brasileiro, oferecendo alternativas de financiamento e ampliando as possibilidades de diversificação de investimentos. Com o apoio de uma governança sólida e das melhores práticas de gestão, o setor agropecuário está pronto para colher os benefícios desse novo instrumento financeiro e contribuir ainda mais para o desenvolvimento econômico do Brasil.

*Adilson Martins é sócio de Risk Advisory da Deloitte e líder do Centro de Excelência para o Cooperativismo e Octaciano Neto é diretor de Agronegócio na Suno Asset.

Fonte: Bruno Nunes

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