Reunido no Japão no mês passado, o Comitê da International Standartization Organization (ISO) responsável pela gestão das normas ISO 27065 (vestimentas protetivas agrícolas) e ISO 17491-4 (testes de vestimentas em cabines) aprovou alterações para o conteúdo de ambas. Parte dessas modificações, propostas pela ABNT, teve origem em estudos e pesquisas desenvolvidos pelo programa IAC de Qualidade de Vestimentas Protetivas Agrícolas (IAC-Quepia), coordenado pelo pesquisador científico Hamilton Ramos.
Resultante de uma parceria entre o Centro de Engenharia e Automação (CEA), do Instituto Agronômico (IAC), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de SP e o setor privado, o programa IAC-Quepia completou 16 anos de atividades em 2023. A iniciativa mira o aprimoramento da qualidade industrial de equipamentos de proteção individual empregados em aplicações de agroquímicos, para prover segurança ao trabalho rural.
Principais mudanças
De acordo com o pesquisador Ramos, boa parte das novas diretrizes das normas ISO 27065 e ISO 17491-4 adveio de ensaios empreendidos no laboratório do programa IAC Quepia, sediado na paulista Jundiaí e alvo de investimentos recentes da ordem de R$ 1,2 milhão.
Para a ISO 27065, ele explica, o IAC-Quepia contribuiu na simplificação do ‘ensaio de permeação’, aplicável a materiais impermeáveis. Esta medida, diz, permite economia significativa do líquido teste necessário ao ensaio. “O líquido-teste originalmente usado custa cerca de quatro mil euros o litro, sem contar taxas de importação, um valor absurdo. Com a simplificação proposta pelo IAC, apresentada pela ABNT e aceita pela ISO, o custo desta análise deve cair cerca de 80%”, justifica Ramos.
Já para a norma ISO 17491-4, cujo objetivo é avaliar a possibilidade de penetração de agrotóxico na vestimenta protetiva, no período de trabalho rural, as mudanças foram mais abrangentes, conforme Ramos.
“Em revisão desde 2015, por sugestão do Brasil, várias mudanças foram incorporadas com vistas a diminuir a variabilidade de resultados entre diferentes laboratórios, tais como a padronização de ‘movimentos’ realizados pelo ‘modelo’, uma pessoa que simula ser um usuário de EPI agrícola em atividade no campo, posicionado dentro da cabine-base de testes. Será adotado, ainda, novo padrão de cronometragem durante essa simulação, a contar do momento da exposição ao produto até a análise de resultados e a composição do líquido teste.
Ainda em relação a isso, diz Ramos, a reunião da ISO acatou recomendações do Brasil no tocante às especificações ‘barra de pulverização’ empregada nos testes. Até há pouco, complementa o pesquisador, se usavam quatro bicos, espaçados com 45 cm de distância. “Agora, o primeiro bico deve estar a 60 centímetros da plataforma e os outros a 45 centímetros, visando à melhor distribuição do líquido-teste sobre o corpo da pessoa que representa o trabalhador na cabine.”
A ISO acatou também, segundo o pesquisador, uma sugestão para padronizar globalmente o tamanho da cabine-base de testes, “cuja nova dimensão se assemelhará à da que é mantida no laboratório do Quepia, há vários anos”.
Por fim, continua Ramos, foi incluído na ISO 17491-4 um anexo que padroniza o tamanho da vestimenta a ser incorporada aos testes. Essa norma prevê novas diretrizes para vestir peças acessórias aos EPI nas simulações, como o macacão absorvente utilizado sob a vestimenta protetiva exposta na cabine. “Com tais modificações, os resultados dos testes serão mais uniformes e confiáveis, resultando em mais segurança ao trabalhador”, finaliza.
Fonte: Fernanda Campos