A grande maioria das empresas brasileiras e multinacionais considera que o Brasil deve evitar retaliação imediata às tarifas de 50% anunciadas pelos Estados Unidos e priorizar a negociação diplomática.
Levantamento realizado pela Amcham Brasil com 162 companhias revela que:
- 88% defendem que o melhor caminho é negociar, sem recorrer a medidas de reciprocidade;
- 86% avaliam que uma retaliação imediata agravaria tensões e reduziria o espaço para diálogo;
- Apenas 10% apoiam medidas imediatas de reciprocidade.
O estudo mostra ainda que, entre as empresas exportadoras, 59% preveem interrupção total ou queda acentuada nas vendas aos EUA com a entrada em vigor da sobretaxa, ameaçando setores estratégicos do comércio bilateral.
A pesquisa foi conduzida entre 24 e 30 de julho de 2025, antes da publicação da ordem executiva americana. A Amcham calculou que a lista de exceções divulgada em 30 de julho contempla 694 produtos, representando US$ 18,4 bilhões em exportações brasileiras no último período apurado (2024). O valor corresponde a 43,4% do total de US$ 42,3 bilhões exportados pelo Brasil para os EUA.
Principais preocupações com uma eventual retaliação
- Agravamento das tensões com os EUA e redução do espaço para negociação (86%);
- Impactos em setores brasileiros dependentes de insumos, tecnologias ou equipamentos dos EUA (71%);
- Prejuízo à imagem do Brasil como destino de investimentos (50%);
- Aumento da insegurança jurídica no ambiente de negócios (45%).
Além dos efeitos diretos sobre as exportações, a pesquisa sugere outros impactos relevantes:
- 52% apontam riscos à cadeia de fornecedores no Brasil;
- 52% indicam perda de competitividade frente a concorrentes internacionais;
- 46% consideram rever investimentos planejados ou em curso no Brasil;
- 43% mencionam realocação de projetos globais;
- 41% preveem redução de quadro de colaboradores e diminuição da atratividade do país para novos investimentos;
- 18% percebem risco de dano reputacional para empresas americanas com operação no Brasil;
- 13% não descartam paralisação de atividades no país.
Segundo Abrão Neto, presidente da Amcham Brasil: “Os resultados da pesquisa revelam com nitidez os potenciais impactos que tarifas mais altas representam para os negócios – desde a interrupção de exportações até o redirecionamento de investimentos globais. É fundamental intensificar a busca por uma solução que preserve os ganhos econômicos e sociais da relação entre Brasil e Estados Unidos.”
O levantamento mostra também que 52% das empresas monitoram a situação sem ações definidas, enquanto 54% atuam por meio de associações empresariais. Há mobilizações pontuais: 25% engajam parceiros e clientes nos EUA, e 16% dialogam diretamente com autoridades brasileiras.
Perfil dos respondentes
A amostra inclui empresas com capital brasileiro (59%), americano (23%) e de outros países (18%). Quanto ao vínculo com o comércio bilateral:
- 41% são exportadoras de bens para os EUA;
- 35% importam dos EUA;
- 33% não têm relação direta, mas podem ser impactadas indiretamente.
Fonte: Dirceu Pinto