As nuvens de gafanhotos ocorrem em todos os continentes. Há milênios. Como no texto bíblico sobre a praga de gafanhotos no Egito. Existem mais de 12.000 espécies de gafanhotos no mundo. E menos de 30 delas são capazes de gregarizar e formar nuvens.
Na América do Sul há registros de nuvens de gafanhotos atacando cultivos de mandioca na província de Buenos Aires em 1538! O espanhol Nuñes Cabeza de Vaca no final do século XVI, relatou ataques de gafanhotos, vitimando os indígenas e causando fome na região do rio Paraguai.
O gafanhoto das “nuvens” atuais, na Argentina e no Paraguai, é um velho conhecido dos pesquisadores e agricultores. Seu nome científico é Schistocerca cancellata. O Programa Nacional dos Gafanhotos da República Argentina existe há 128 anos! É o mais antigo programa do Ministério da Agricultura e de qualquer esfera de governo daquele país.
Criado em 1891, o programa até 1940 esteve focado na luta defensiva contra os gafanhotos. Com o advento dos pesticidas, o programa inaugurou a luta ofensiva, que durou até 1954. A partir daí foi inaugurada a luta preventiva, com o avanço do conhecimento científico sobre a biologia e a ecologia dos gafanhotos e meios de monitoramento e controle.
Pululações de gafanhotos não devem ser atribuídas a questões políticas ou imaginários desequilíbrios ambientais de origem humana. A ciência estabeleceu: nuvens de gafanhotos resultam essencialmente de sequências favoráveis de eventos meteorológicos, intra e plurianuais, seja na Ásia, África, Austrália ou Américas.
Antes da fase gregária, é possível evitar a formação de nuvens por meio do controle precoce das formas juvenis dos gafanhotos. Na Argentina existem até APPs para sinalizar a localização da concentração de saltões (gafanhotos jovens). Para nuvens já formadas, existe uma ampla gama de produtos, desde hormônios até pesticidas, para controlar a praga e reduzir seu impacto. A pulverização aérea é muito eficaz em determinados casos. Esses bilhões de indivíduos não se controlam com galinhas d’Angola ou golpes de vassouras, como sugerem palpiteiros de plantão. O conhecimento científico é fundamental.
Na América do Sul, neste período (inverno), as principais colheitas já ocorreram. Os gafanhotos podem causar danos a pastagens e, sobretudo, a áreas irrigadas e de cana de açúcar, mas ainda estão longe disso.
Mais informações em: http://www.gafanhotos.cnpm.embrapa.br/
Evaristo de Miranda, doutor em ecologia e chefe-geral da Embrapa Territorial