A pressão por alimentos cresce em escala global. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), até 2050 será necessário produzir 60% mais alimentos para alimentar uma população estimada em quase 10 bilhões de pessoas. O desafio é ainda maior diante das mudanças climáticas, da perda de áreas agricultáveis e da escassez de recursos naturais.
Nesse cenário, o Brasil aparece como um dos protagonistas da transformação. Agtechs e foodtechs têm desenvolvido soluções que unem produtividade, sustentabilidade e competitividade internacional, enquanto plataformas de financiamento, como a Arara Seed, ampliam o acesso a capital e conectam investidores a startups do setor.
Confira os movimentos que já moldam o futuro do agro:
1. Pastagens degradadas como nova fronteira
O Brasil tem 164 milhões de hectares de pastagens, dos quais 28 milhões apresentam degradação severa ou intermediária, segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do MapBiomas – rede colaborativa que reúne organizações não governamentais, universidades e empresas de tecnologia. “A recuperação dessas áreas é apontada como uma das maiores oportunidades globais de regeneração agrícola e climática, capaz de atrair bilhões em investimentos e elevar a produtividade sem necessidade de abrir novas fronteiras”, afirma Henrique Galvani, CEO da startup.
2. A força dos bioinsumos
O mercado global de bioinsumos deve movimentar US$ 30 bilhões até 2030, segundo estimativas da Markets and Markets. No Brasil, o segmento cresce acima de 30% ao ano, impulsionado pelo avanço das agtechs de base biotecnológica e pelo Programa Nacional de Bioinsumos.
As soluções vão desde biofertilizantes até defensivos biológicos, reduzindo custos e impactos ambientais. “O uso de biológicos é um dos pilares da agricultura regenerativa — melhora a saúde do solo, reduz a dependência de químicos e aumenta a rastreabilidade, fator decisivo para acessar mercados internacionais cada vez mais exigentes”, explica Galvani.
3. Agricultura digital: IA, sensores e robótica no campo
Drones, sensores e algoritmos de inteligência artificial já são parte do cotidiano nas fazendas brasileiras. A chamada agricultura de precisão permite ganhos médios de 25% na produtividade e redução de até 30% no uso de insumos, segundo pesquisa da Accenture.
Com a chegada da 5G no campo e da automação robótica, a tendência é o avanço de sistemas totalmente integrados, com monitoramento em tempo real do solo, clima e plantas. “Essa inteligência de dados ajuda o produtor a antecipar pragas, doenças e riscos climáticos, tornando a tomada de decisão mais assertiva e sustentável”, ressalta Galvani.
4. Logística e rastreabilidade para reduzir o desperdício
De acordo com a Embrapa, o desperdício de alimentos no Brasil chega a 10% da produção total, gerando perdas anuais superiores a R$ 50 bilhões. Startups têm apostado em armazenagem inteligente, cadeias curtas de distribuição, blockchain para rastreabilidade e plataformas digitais de escoamento.
Essas soluções não apenas combatem o desperdício, como fortalecem a segurança alimentar e ampliam o valor agregado dos produtos agrícolas brasileiros. A rastreabilidade, cada vez mais exigida pela União Europeia, tende a se tornar diferencial competitivo na exportação de alimentos.
5. Capital verde e novos instrumentos de financiamento
O crédito rural ultrapassou R$ 1 trilhão em 2024, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), mas apenas uma fração foi destinada a tecnologias regenerativas. Esse vácuo abre espaço para novas formas de financiamento, como os Fiagro, que cresceram 147% em 12 meses e já somam R$ 38 bilhões, e as plataformas de investimento coletivo, como a Arara Seed, que conectam investidores a agtechs e negócios de impacto.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), por sua vez, abriu consulta pública para permitir que plataformas de equity crowdfunding também possam captar recursos diretamente para produtores rurais e projetos agrícolas, ampliando o acesso ao mercado de capitais e fomentando a inovação no campo.
“Investir em inovação e sustentabilidade hoje é garantir a capacidade de alimentar o planeta amanhã”, conclui Galvani. A soma de capital privado, tecnologia e propósito ambiental tende a ser o grande motor da próxima revolução agrícola brasileira.
O agronegócio brasileiro vive um momento decisivo. A combinação entre tecnologia, capital e sustentabilidade está redesenhando o modo de produzir, financiar e exportar alimentos. Mais do que um setor econômico, o agro se consolida como vetor estratégico de segurança alimentar, geração de riqueza e equilíbrio climático global.
Fonte: Christiane Alves