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Jatai

Bom demais!

Por Paulo Martins –

Este ano tem sido muito incerto. Os diferentes setores da economia acumulam notícias ruins e projetam o curto prazo com pessimismo. Mas, este não é o cenário para a produção de leite. Depois de tempos difíceis, o ambiente atual se mostra favorável. Pelo quarto mês seguido, o custo de produção de leite caiu continuamente, caracterizando um quadro de deflação. No mesmo período, o preço do leite recebido pelo produtor cresceu continuamente, melhorando a margem bruta da produção de leite. O melhor dos mundos! Não me lembro de situação como esta nos 34 anos que me dedico a analisar o setor.

A Embrapa Gado de Leite mede a variação do custo de produção de leite por meio do ICPLeite/Embrapa, que reflete o comportamento de custos de uma fazenda típica de Minas Gerais. Os preços de insumos são coletados no varejo daquele Estado. O gráfico 1 retrata o comportamento de custos neste primeiro quadrimestre do ano. Apresentado em números índices e tendo por base dezembro de 2016, janeiro iniciou o ano com queda de -0,44%. Em fevereiro o fenômeno voltou a ocorrer. Os custos caíram -0,49%. Em março, novamente ficou mais barato produzir leite, já que a queda foi de -0,91. Mas, foi em abril que o custo de produção despencou. A queda foi de -4,72%.

No acumulado do primeiro quadrimestre do ano, produzir leite ficou 6,5% mais barato que dezembro de 2016. Já para os preços pagos ao produtor de Minas Gerais, o inverso ocorreu. Quebrando o padrão, os preços subiram desde janeiro e fecharam o quadrimestre com alta de 6,5%. Na média, a margem bruta, diferença entre preço e custo, cresceu 13% no quadrimestre. No mesmo período, o IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo, que é a medida oficial da inflação brasileira, praticamente não se alterou.

 

O ICPLeite é formado por oito grupos de custos. O que explica a deflação nos custos de produção de leite neste primeiro quadrimestre do ano é o grupo concentrados. Com a queda do preço da soja e do milho nos mercados nacional e internacional, o efeito foi impactante. O Gráfico 3 mostra que o grupo concentrados ficou mais barato 18,6% em apenas quatro meses. Produção e compra de volumosos também apresentou queda, ainda que tímida. Com a elevação do salário mínimo os custos da mão de obra, cresceram 5,3% e o custo de aquisição do sal mineral registrou significativo aumento de 4,2%, em apenas um quadrimestre. Foi o maior aumento acumulado dentre todos os grupos de insumos pesquisados e que compõe o Índice.

 

Os grupos de menor peso acumularam pouca ou nenhuma elevação de custos no quadrimestre. Os ingredientes usados na higiene, necessários à qualidade do leite, tiveram elevação nos meses de fevereiro e março, mas voltaram a patamares comportados em abril, conforme mostra o Gráfico 4. O grupo sanidade apresentou elevação acumulada de preços nos insumos de 1,5%, enquanto que os grupos reprodução e energia e combustível acumularam retração nos preços, contribuindo para a redução nos custos de produção de leite.
O mês de maio ainda está em curso e sempre é perigoso comentar um jogo enquanto ele é jogado. Mas, percebe-se uma pequena variação no mercado. Pelo lado dos custos, ocorreu uma pequena elevação no grupo concentrados, que deverá ser captado pelo ICPLeite no final deste mês. Por outro lado, houve queda no preço do leite no mercado spot, que deverá ser transmitida ao preço recebido pelo produtor em algum nível. Nos dois casos, custos e preços, a tendência dos primeiros quatro meses do ano pode ser interrompida.
Mas, o que se percebe é um ambiente favorável para a rentabilidade na produção de leite em 2017, mesmo neste ambiente de incerteza em que o Brasil está inserido. Os custos deverão se manter controlados e nada indica que teremos forte queda nos preços pagos ao produtor. Pelo visto, a rentabilidade na produção de leite deverá ter um comportamento diferente do restante da economia brasileira este ano. Tudo indica que será um ano bom. Pelo menos foi muito bom no primeiro terço do ano. Bom demais!

Paulo Martins – Juiz de Fora-MG – pesquisa e ensino. Doutor em Economia Aplicada. Chefe Geral da Embrapa Gado de Leite e Professor na UFJF.

Fonte: Milk Point

 

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